Vamos começar de uma coisa mais simples. Digamos, um sapato com sola grossa, cuja finalidade é elevar aquele que o usa sobre a lama. Bem útil na idade média, as estradas de então realmente deixavam a desejar.
Daí até as invenções da Renascença, um pequeno passo somente: surge o sapato de plataforma bem alta. De madeira, decorada com couro e tecido, pintada ou mesmo enfeitada com pedras preciosas, a plataforma se transforma no acessório da moda, indispensável para as senhoras nobres e para as suas concorrentes em busca da beleza, as cortesãs. A altura do sapatinho variava, chegando a quase meio metro. Aí, a corajosa senhora precisaria recorrer ao auxílio de dois criados, em cujos ombros poderia se apoiar ao andar...
1600
Como todas as coisas que elevam - literalmente nesse caso - as mulheres acima dos homens, a moda era duramente criticada: "alongando as suas pernas com saltos de um quarto ou mesmo meio braço de comprimento, você se transforma em monstro com cabeça e torso de criança e pernas de gigante. Por acaso é bonito se seus joelhos estão onde deveria estar o queixo, você não é capaz de dar nem quatro passos sem perigo de cair, você tropeça quando tenta se ajoelhar, e não consegue levantar-se sem ajuda?".
1600
Essas "chopines" eram populares principalmente na Itália, e também na Espanha, sendo mais raras nos demais países europeus.
Já no século 17, difundiu-se o salto tal como o conhecemos hoje. Em pouco tempo, surgiram também as discussões acerca do seu uso, que continuam até hoje. Contudo, o uso do salto já não se restringia mais à aristocracia: os demais imitavam-nos com grande empolgação.
Em 1663, Nicholas Lestage tornou-se famoso depois de fazer botas de pele sem costuras para Luís XIV, o Rei-Sol - algo nunca visto naqueles tempos. O rei deu o devido reconhecimento ao artesão, que confeccionava outros sapatos inigualáveis - com saltos altos. Afinal, este rei não era lá muito alto.
1700-1720
1720-1740
Além disso, logo notou-se que o pé num sapato com salto parece menor, algo que era bem valorizado na época. Andar de forma elegante usando saltos altos exigia uma certa habilidade, mas os seres humanos aprendem rápido.
Os saltos altos, em particular vermelhos, tornaram-se um acessório indispensável para os aristocratas, e assim permaneceram por um século e meio.
1700-1710
As damas não ficavam para trás.
Sapatos sem a parte de trás - mules, pantufas - no final do século 17, deixaram de ser um sapato para ser usado em casa. Agora, com um salto alto, poderiam ser usados em público.
1700
1740
De materiais diversos, e saltos de tamanho variado, tornam-se o sapato mais popular do século 18. O mais bonito, o mais encantador. O salto alto sublinhava a beleza do pé, era possível tirar o sapatinho a qualquer momento, balançá-lo na ponta dos dedos... Arma da sedução, encarnação do rococó.
O salto desempenhava um papel importante. Ficava mais próximo ao meio do pé, para diminuí-lo visualmente. Na metade do século, tornou-se popular a silhueta que mais tarde foi chamada em homenagem a marquesa de Pompadour, famosa favorita de Luís XV: um pouco afinado no meio.
1780
No final do século 18, o salto começou a diminuir. E a Revolução Francesa derrubou não só a monarquia, mas também os saltos. Dizem que Maria Antonieta, ao aproximar-se da guilhotina, tropeçou e pisou no pé do carrasco com o saltinho. "Desculpe!" Mas o tempo dela acabou, e acabaram também os saltos altos.
1805-1810
A moda do Império exigia vestidos leves, e sapatos correspondentes, sem salto algum, de modo que estes quase desapareceram. Não sei se as mulheres estavam muito felizes com isso.
Já na década de 1840, o salto alto reapareceu, principalmente em sapatos usados na rua. Se bem que o que quer que as mulheres usassem, poucas pessoas sabiam, já que os pés eram inteiramente cobertos por saias volumosas.