(…) La belle Lanthelme où est-elleQu’on enterra dans ses dentellesEt couverte de ses bijouxLes yeux ouverts sous la voiletteComme un bouquet de violettesUn lait pâle peignant ses jouesIl en trembla comme une feuilleLe voleur brisant le cercueilQui vit tout cela devant luiParfums profonds qui s’exhalèrentAh comme encore elle a dû plaireA ce visiteur de minuit (…)
Genevieve Lantelme é uma mulher-segredo.
Vamos começar pelo nome, se bem que aí já começam as
complicações. O seu nome verdadeiro era Mathilde Fossey, Genevieve Lantelme era
o pseudônimo que usava como atriz. Nos jornais, era Mlle Lantelme. Para os
amigos, era Ginette.
Alias, havia várias atrizes com o sobrenome de Lantelme. A
primeira, Marie, havia feito bastante sucesso, mas deixou o teatro em 1894 para
casar-se. Genevieve representou de 1901 a 1911. Talvez ela admirasse a primeira
Lantelme, ou quisesse pegar carona na popularidade dela?
A própria atriz escrevia o pseudônimo como Lantelme. Mas era
mencionada como Lanthelme, Lanteline e mesmo Lantelline.
Mas enfim, Genevieve Lantelme nasceu em Paris, em 1882. Essa
data foi indicada na revista Le Theatre, e o local, em The Theatre Magazine.
Mas a última fonte indica como ano do nascimento o ano de 1883. Outras fontes
mencionam 1882 ou 1883.
Ao certo, sabemos que Genevieve tinha uma mãe e duas irmãs
mais novas. Obviamente, havia também o pai, mas nenhuma das fontes menciona-o.
Depois da morte de Lantelme, uma das irmãs tentou a carreira teatral, mas não
deu muito certo.
Sobre a vida antes de entrar para o teatro, só corriam
boatos. Alguns diziam somente passado obscuro. Outros falavam sobre a mamãe
cafetina que botou a filha para ralar desde cedo.
Mas enfim, em 31 de outubro de 1901, o nome dela apareceu
pela primeira vez na revista Figaro. Ela debuta no teatro "Gymnase".
O nome de Mlle Lantelme era o quarto contando do final. Mas é somente a
primeira peça dela.
Em 3 de dezembro de 1901, Genevieve representa em uma outra
peça. Dessa vez, a atriz é notada, e o crítico destaca em particular a grande
naturalidade da jovem atriz, e seu dom para a comédia.
Depois, seguiram-se várias outras peças, a maioria comedias
modernas. Se bem que no final da vida ela representa em algumas peças clássicas
e históricas. Ginette começa a aparecer nos jornais.
Desde então, Lantelme também aparece em muitas revistas de
moda. Na época, a profissão de modelo praticamente não existia, e quem
"mostrava" as roupas eram, normalmente, atrizes. No final da vida,
Lantelme é um ícone da moda. Típicos do estilo de Ginette são cabelos fartos,
chapéus gigantes e pérolas.
Enfim, a moça está num começo de carreira excelente, mas
deixa o palco e, depois de passar num concurso, entra no curso de atuação do Conservatório
de Paris. Durante todo o ano de 1904, os jornais não a mencionam.
No ano seguinte, ela volta a atuar. Lantelme já possui
alguma fama, mas a sua posição no mundo do teatro não é sólida, ela não possui
nenhum contrato permanente. Ginette passa de teatro em teatro, obviamente
aceitando todos os papeis que lhe oferecem. No início de 1906, num ensaio, ela
conhece o autor da peça, um certo Alfred Edwards. Esta é a décima terceira peça
em que Ginette atua.
Alfred Edwards nasceu em Constantinopla, em 1857, isto é,
tinha 26 anos a mais que Ginette. Seu pai era inglês, e sua mãe era francesa.
Alguns jornais insistiam em chamá-lo de judeu, talvez porque ele fosse
absurdamente rico. Era muito alto e muito forte. Naquela época, com a moda do
teatro, todos escreviam peças, e Edwards também brincava de autor. Além disso,
ele era mulherengo. Ele havia "roubado" a mulher dele, Misia, de um
conhecido, mas já estava um tanto de saco cheio dela, e seu encontro com
Lantelme aconteceu num momento propício. Edwards não pretendia divorciar-se de
Misia e casar-se com ela, o divorcio custar-lhe-ia uma fortuna. Ele se limitou
a cobrir Ginette de presentes e ofereceu-se para alugar-lhe um apartamento.
No final do ano, Lantelme conseguiu um contrato permanente
com um teatro, aberto por uma atriz mais bem sucedida. Inicialmente, tudo ia
bem, mas a dona do teatro ficava sempre com os papeis principais. Um ano
depois, Ginette não agüentou e fugiu do teatro. Contudo, foi processada por
quebra de contrato e obrigada a pagar uma soma imensa, que ela poderia
conseguir somente com Edwards. Assim, ela ficou totalmente dependente dele.
Há aqui um ponto curioso: alguns artigos mencionam Edwards
como verdadeiro proprietário do teatro. Então porque Lantelme não recebia
papeis de destaque? Porque foi processada? Ou era um meio de puxar as rédeas da
atriz?
Mas, em breve, a sorte sorri para ela, e ela consegue um
novo emprego em Paris. Suas fotos aparecem nas capas de todos os jornais. O rei
Edward VII da Inglaterra vai ao teatro especialmente para vê-la representar.
Em 1910, ela finalmente se casa com Edwards. Curiosamente, o
casamento ocorreu na província, e as testemunhas foram alguns transeuntes. É possível,
que Edwards vingue assim a sua raiva: a ex-mulher levou-lhe uma pensão de 48000
francos por ano. Naquele tempo, um automóvel, considerado artigo de luxo,
poderia ser comprado por dois mil francos.
Em 1 de julho de 1911, Lantelme sai ao palco pela última
vez. Poucos dias depois, ela vai viajar no iate do marido, e falece em 25 de
julho.
Enfim, temos o iate a vapor "Amada", construído em
Amsterdã especialmente para navegação fluvial, noite de 24 para 25 de julho,
várias testemunhas e uma atriz desaparecida.
Em poucas palavras, o quadro é o seguinte. Dia 24, o iate cruzou
a fronteira da Alemanha. Depois todos comeram, beberam, cantaram e se
divertiram.
À noite, começou a chover, e todos foram para os seus
quartos. Edwards, no quarto vizinho ao da esposa, ouviu um gritinho, foi até
lá, bateu na porta. Não havia resposta. Preocupado, ele arrombou a porta e viu
que a janela está aberta e Ginette desapareceu. Seria natural supor que ela
caiu pela janela.
O problema é que a janela era bem alta, e era impossível
cair por ela, mesmo se o iate balançasse muito. Supuseram que Ginette ficou com
calor (realmente, estava muito quente), e ela subiu num banco para respirar ar
fresco. Talvez ela tenha ficado com tontura, ou o iate balançou, ela não
conseguiu se segurar e caiu na água. Ela não sabia nadar, e uma queda nas águas
do Reno significava morte para ela.
Enfim, havia explicações demais e investigação de menos.
Edwards recusava-se a falar do ocorrido.
Lantelme foi enterrada no cemitério Pere Lachaise. O viúvo
ordenou enterrar a mulher com as jóias favoritas dela, e também com um retrato
dele. Um amigo de longa data desmaiou no enterro.
Terminou o drama, começou o circo. A família da falecida
lembrou-se que Edwards não havia providenciado um contrato de casamento
adequado, e pediu a sua parte da herança, 700000 francos. Além do dinheiro, a
família de Ginette exigiu os pertences pessoais dela - não para ficar com eles,
como logo se descobriu, pois os objetos foram imediatamente leiloados.
Em dezembro de 1911, ladrões arrombaram o caixão de Lantelme
em busca de jóias, mas por uma combinação de circunstâncias não conseguiram
roubá-las. Ao saber sobre o ocorrido, Edwards mandou arrumar o túmulo, e as jóias
também passaram para as mãos da família de Lantelme. Em 1920, elas também
seriam leiloadas, e, curiosamente, aquilo que foi leiloado não correspondia à
descrição feita por um repórter pedante nove anos antes.
Em 1912, um jornal acusou Edwards do assassinato da esposa.
Motivo? Ele morria de ciúmes dela, e ela nem pensava em ser
fiel. Quando ela morreu, no quarto dela foi encontrada a carta para um amante.
Este era Andre Brule, também ator, extremamente popular na época.
Que janela que nada. Ela não caiu. Não houve acidente algum!
O casal brigou, ele a matou, simples! Provavelmente, asfixiou-a e jogou o corpo
na água. E quando começou a investigação, recorreu a amigos poderosos para
abafar o caso.
Edwards processou o jornal. Foi feita uma nova investigação,
Edwards foi inocentado, contudo a multa que o jornal teve que pagar foi ridiculamente
pequena.
Edwards morreu em 1914 Apesar da reputação, foi assediado
pelas mulheres até a morte. A sortuda que ficou com a herança foi a sua última
amante, Colonna Romano, muito parecida com Ginette. Depois da morte dele, houve
uma nova rodada de processos com participação da família de Lantelme, e de
Misia.
Enfim, nada jamais foi provado.