- Está estranhamente silencioso, - disse o chefe de família, ao entrar na sala. - E onde está a minha querida menina? Porque não vem encontrar o papai?
- Está triste. Se escondeu no quarto para chorar, - disse a mãe, em voz baixa. - Fomos vizitar a irmã, - começou ela com um suspiro, - e as sobrinhas Iris e Lia contaram um monte de histórias sobre príncipe no cavalo branco para a criança. Nossa ficou morrendo: "Quero um príncipe, quero um príncipe..." E essas malvadas começaram a rir, que ela ainda é muito pequena para um príncipe. Poxa! - suspirou a mãe, entristecida. - E eu, também, sem querer... - ela olhou para o marido. - Eu não percebi aonde as coisas estavam indo... - Uma lágrima brilhou na face dela. - É que ela perguntou se tem príncipes com cavalos brancos no nosso reino. E eu falei que tem, mas são todos muito velhos. As sobrinhas caíram na gargalhada, e a nossa desatou a chorar. Não conseguiu se acalmar até agora. Vai lá, converse com ela.
- É claro, - agitou-se o pai. - Vou agorinha mesmo, - ele virou-se para a porta do quarto da filha. - Se bem que... - parou ele. - Sobrou algum pedaço do bolo? - a mãe fez um gesto afirmativo. - Dê-me, vou levar um doce para ela.
O quarto da filha estava bastante escuro. Somente na mesinha ardia, faiscando um pouco, uma pequena lamparina. O pai deu uma volta pelo quarto, tentando não pisar nos brinquedos espalhados, e cutucou ligeiramente o novelo bravo que se escondia no canto mais escuro.
- Grilinho! - chamou ele, carinhosamente.
Soaram resmungos e suspiros.
- Queridinha! Papai te trouxe bolo.
- Vá embora! - resmungou o novelo.
- Como? Nem vai querer bolo?
O novelo apertou-se ainda mais.
- Não vai nem dizer oi para o papai? E o papai queria te contar uma coisa bem interessante.
Alguma coisa bufou dentro do novelo.
- Você sabe o que o papai viu hoje? - o pai abaixou-se e colocou o bolo do lado do novelo. - Seu pai andou pelo reino hoje. Foi para o leste, e para o oeste também. Olhou quem mora por lá, o que faz... - o pai olhou, com expectativa, para o novelo, mas aquele não deu sinal de vida.
- E eis que eu passei por uma floresta verdejante. Uns pássaros cantando, coelhinhos pulando... E depois da floresta, havia um campo. E no campo, cavalheiros. Eu olhei, e vi, junto com os guerreiros, um menino. Mal alcança os estribos. Apesar de ele ser pequeno, todos o reverenciam, obedecem-no. E eu pensei: deve ser um príncipe.
Nesse momento o novelo se mexeu, e um pequeno narizinho curioso apareceu debaixo do cobertos.
- Príncipe? - perguntou.
- Príncipe! - confirmou o pai. - E ainda, entre os cavalos, vi um cavalinho bem pequeno. Pequenininho, todo branco. Sem uma mancha!
- Não está me enganando?
- É claro que não! Não mesmo! - sorriu o pai.
- E porque o príncipe é tão pequeno? - a menininha finalmente saiu debaixo do cobertor e tentou subir nos joelhos do pai.
- Mas você também não é grande. Mas o príncipe vai crescer, a cada ano que passa. E o cavalinho dele vai crescer. E você vai crescer! - ele fez cócegas na barriguinha da menina. Ela riu.
- E o que mais você viu? - ela estendeu a patinha na direção do bolo.
- O que mais? Eu ainda vi uma menininha, uma verdadeira princesa.
- E ela é muito bonita?
- Muito! E a cada ano, ficará mais e mais bela. Não é? - perguntou o pai, carinhosamente. A menina balançou a cabeça afirmativamente, com o bolo na boca.
- E depois?
- E depois, quando a princesa crescer, a fama sobre a beleza dela correrá todo o reino. Poetas escreverão poemas sobre ela, e pintores desenharão retratos. E uma vez, o belo príncipe verá, acidentalmente, um retrato dela e se apaixonará. Montará no cavalo branco e irá em busca da princesa.
- E depois aparecerá um dragão e sequestrará a princesa! - a filhinha bateu palmas.
- Isso mesmo! E o príncipe irá resgatá-la.
A menina riu alegremente.
- Que contos de fada saborosos que você conta, papai! E poderei convidar Iris e Lia também?
- Você não tinha brigado com elas? - sorriu o pai.
- Eu não sou mala, podem vir! - respondeu a menina. - E verdade que os príncipes são muito saborosos? - sua longa língua bipartida lambeu os lábios verdes.
- Muito! - respondeu o pai, piscando com o olho vermelho-sangue. - E os cavalos brancos também são. E as princesas então... E tenha certeza, Grilinho, você ainda terá o seu príncipe, - ele carregou a pequenina para a cama.
- Promete? - a dragãozinha colocou um bichinho de pelúcia sobre o rabo.
- Prometo!
Depois de beijar a filha no narizinho verde, o imenso dragão vermelho saiu do quarto sentindo que havia cumprido o seu dever.
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at segunda-feira, maio 09, 2011
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contos de fadas
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