Normalmente, se um habitante de Londres queria passar uma semana ou outra no Tâmisa, para descansar do barulho e fumaça da cidade, pegava um trem na estação de Euston-Square ou de Paddington e seguia até Oxford: uma viagem de 63 milhas. Isso custava-lhe 11 shillings na primeira classe, 8 shillings e 6 pences na segunda, ou 5 shillings e 3 pences e meio na terceira. Aqui, ele poderia alugar um barco, o que custava-lhe uns 3-4 pounds até Teddington. Este valor incluía também o transporte do barco de volta: ao chegar ao destino, era necessário comunicar ao proprietário que o barco está livre, e o local em que este foi deixado.
Contudo, vamos preferir subir, primeiro, contra a correnteza, para depois retornar. Um dos motivos que levavam as pessoas a optar por este roteiro era o econômico. Além disso, os barcos de Oxford deixavam a desejar.
Estação de Waterloo, final do séc. 19. Foi aberta em 1848 como uma estação temporária, já que pretendia-se prolongar a linha além desta estação. Foi reconstruída em 1900.
Plataformas 1 e 2 de Waterloo (por volta de 1910).
Assim, vamos a estação de Waterloo e embarcamos no trem para Kingston. A viagem, de 12 milhas, levava em torno de 25 minutos, e a passagem custava 1 shilling e 6 pences na primeira classe. A estação de Kensington ficava na margem direita (sul) do Tâmisa, de modo que o trem atravessava o rio antes de chegar ao destino.
Uma senhora com um menino embarcam para um passeio no Tâmisa, em Kingston. Ao longe, vê-se a ponte de Kingston. 1878.
Ponte de Kingston, com torre da igreja de Todos os Santos no fundo.
Acima da ponte ferroviária de cinco lances, construída em 1863, havia a ponte de Kensington, mais antiga. Era possível combinar que o barco esperasse seus passageiros entre estas duas pontes, bem próximo à estação.
O primeiro passo da viagem de 91 milhas até Oxford eram as 9,5 milhas até Shepperton. O barco passava pela ilhota de Messenger Island, e chegava a Thames Ditton, vilarejo na margem esquerda, cujas principais atrações eram o hotel “Cisne”, uma das “capitais” dos pescadores do Tâmisa, e o sítio de Boyle. Nas proximidades de Thames Ditton, começava a regata de Kingston.
Vista para Thames Ditton, 1860.
Hotel “Cisne” com embarcadouro, em Thames Ditton, 1870.
Panorama do rio, na região da Thames Ditton.
Towpath – trilha à margem do rio que permitia que os barcos fossem puxados por cordas – entre Kingston e ponte ferroviária de Hampton Court, uma milha acima de Thames Ditton, passava pela margem esquerda. Regras rígidas estabelecidas para puxar barcos proibiam andar em locais onde não havia uma trilha específica para esse fim. Era proibido andar a cavalo ou de carruagem pela towpath, e também deixar ali quaisquer objetos ou ancorar barcos na margem da towpath. Aqueles que puxavam o barco ao longo da margem, eram obrigados a manter as cordas num nível fixo, para que, ao se deslocar, estas não danificassem as margens, as eclusas e outros.
Towpath ao longo do Tâmisa.
Grande palácio real em Hampton Court, inicialmente construído como residência do cardeal Wolsey em 1514. Passou para as mãos da Coroa em 1529. 1870.
Ponte de Hampton Court, construída entre 1864 e 1866. 1875.
Ponte de Hampton Court, com hotel “Castelo” à esquerda. Final do séc. 19.
Na margem esquerda, na altura da ponte de Hampton Court, havia o East Molesey com uma estação ferroviária, enquanto o próprio Hampton Court se localizava na margem direita do Tâmisa.
Ali, era necessário passar para a outra margem, para puxar o barco até a primeira eclusa do nosso trajeto. Era a eclusa de Molesey, de madeira, construída ainda em 1815, com desnível médio de 180 cm. Possuía uma rampa para subida e descida de barcos de passeio.
Eclusa de Molesey, fotografada de Hampton Court, com a barragem ao longe, 1870.
No total, havia 31 eclusas até Oxford. Eram todas de câmaras, com duas comportas. Para o transporte de barcos da parte superior para a inferior, o nível de água da câmera era igualado ao do rio acima da eclusa. Feito isso, a primeira comporta se abria, permitindo entrada de barcos. Depois disso, a comporta era fechada, e liberava-se água até que seu nível descesse até o nível do rio abaixo da eclusa. A outra comporta era então aberta, permitindo a saída dos barcos. O deslocamento inverso ocorria de forma análoga.
Eclusa de Molesey, 1883.
As eclusas não se localizavam nas barragens, mas num canal lateral. Dessa forma, existia uma ilha entre a barragem e o canal. As primeiras eclusas foram construídas no final do século 18, mas a grande maioria delas foi modernizada nos anos 50-60 do século 19. A passagem pela eclusa era paga, com 6 pences por barco e 1 shilling e 6 pences por barco a vapor.
A grande barragem no Tâmisa em Molesey, 1883.
A eclusa de Molesey era o local favorito de passeio “daqueles que preferem criticar as habilidades esportivas dos outros, e não mostrar-se, e nos domingos, durante o verão, está sempre cheio de grupos nem sempre seletos de pessoas”.
Uma atração do local era o labirinto de Hampton Court. Projetado por George London e Henry Wise entre 1689 e 1695 para William III, cobria uma área de aproximadamente 1350 metros quadrados e tinha quase 800 metros de trilhas.
Além da eclusa de Molesey, havia uma ilha com hotel e barracos para barcos, e, mais adiante, a cidadezinha de Hampton, de aproximadamente cinco mil habitantes. Suas atrações incluíam a igreja de Sta. Maria.
Igreja de Sta. Maria, em Hampton.
Sunbury.
A seguir, depois de passar por locais bastante sem graça, chegava-se ao riacho de Sunbury, perto da cidade e eclusa homônimas. Esta eclusa, reconstruída em 1856, de acordo com “princípios científicos”. O nível da água na sua câmara era controlado por máquinas, o que teve por resultado a sua grande lentidão, tornando a eclusa alvo de inúmeras gracinhas.
Dois grupos de pessoas, aguardando nas proximidades da eclusa de Sunbury, 1880.
Barragem de Sunbury. À direita, vê-se o canal da eclusa, 1883.
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at quarta-feira, maio 04, 2011
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