O vermelho é simples.
Porque ele simplesmente e obviamente aparece no meio do que quer que
seja. E é complicado porque... Para começar, porque é dificil de escolher e o post ficou muito grande.
Louboutin. Sapatos de
todas as cores, mas sempre com solas vermelhas, estão entre os mais
desejados do mundo. Você coloca-os e... Bem, podemos pensar que isso
é uma memória sobre os cavalheiros galantes das eras passadas, que
calçavam sapatos de couro com saltos vermelhos.
Saia reta preta, que
revela subitamente o forro vermelho. Mas até a severa Mammy de "E
o vento levou...", babá de Scarlett, sonhava com uma saia de
tafetá vermelha. Ninguém verá o forro, mas você, você vai saber
que ele está lá, e é vermelho.
Um conjunto por Coco
Chanel, unindo séculos 18 e 20: sua inspiração era um dos
personagens de Watteau, famoso pintor francês. Chanel chegou a
aparecer, mais de uma vez, usando roupas masculinas do rococó, em
festas de fantasia, e depois, em 1938, criou esta elegante versão
feminina.
Ele havia pertencido a
Diana Vreeland - uma das mulheres mais estilosas do seu tempo, foi,
por muitos anos, redatora de moda de "Harper's Bazaar", e
nos anos 60, liderou a "Vogue" americana. Na década de
1970, ela se tornou consultora do Costume Institute do MET.
Diana Vreeland entendia
de moda... E adorava o vermelho. Apartamento decorado com vermelho,
unhas vermelhas, batom vermelho, vestidos vermelhos...
Durante a vida toda,
dizia ela, ela procurou o vermelho ideal:
"Os artistas não conseguem misturar-me o tom certo... O melhor vermelho é a cor dos chapeuzinhos vermelhos das crianças em qualquer retrato da época do Renascimento".
Enfim, o vermelho...
Cor da guerra, da
coragem, do poder, do sofrimento, do fogo, da magia, do sangue e da
paixão.
São João Evangelista
viu a sua meretriz vestida de rubro.
Os rhapsodoi da Grécia
antiga vestiam-se de vermelho para narrar a Ilíada.
Outono, Godward
É a cor dos mantos dos
legionários romanos e dos flammeum - véus vermelhos que cobriam as
noivas da cabeça aos pés.
Vermelho é uma das
quatro cores usadas pelos condutores de carruagens bizantinos e,
correspondentemente, um dos quatro partidos políticos... Mas vamos
deixar a política de lado, junto com bandeiras vermelhas.
Século 16, cruel, mas
colorido e imponente, é o reino do vermelho.
Os reis da dinastia
Tudor, que governava então a Inglaterra, entendiam dessa cor
verdadeiramente régia.
A mais recatada e
humilde das seis esposas de Henrique VIII, no seu retrato mais
famoso, usa um vestido de veludo vermelho. Adivinhe agora qual das seis...
Catherine de Aragão, primeira esposa de Henrique VIII
Anna Boleyn, segunda esposa de Henrique VIII
Jane Seymour, terceira esposa de Henrique VIII
Anna de Cleves, quarta esposa de Henrique VIII
Catherine Howard, quinta esposa de Henrique VIII
Catherine Parr, sexta esposa de Henrique VIII
O filho dela, jovem
Eduardo VI, irá gostar dos tons de sangue e dos cravos, e a
meia-irmã dele, Maria, o tom de rubis. Maria, crente, a "Bloody
Mary", usava vestidos severos e fechados, mas com mangas e saias
vermelhas. Ou então mostrava, com vestidos vermelhos bordados, quem
é a rainha aqui.
Eduardo VI
Mary Tudor
A irmã de Henrique,
mais uma Mary, foi a França para casar-se com um rei idoso, em
trajes bem berrantes: ouro sobre seda rubra, mangas justas à inglesa
e chapéu da mesma cor. Não é de se surpreender que os franceses se
encantavam com a princesa mesmo ao ver o cortejo só de longe.
Os reis ingleses
vestiam-se de vermelho para coroação, tradição esta que persiste
até hoje. Afinal, quando falamos em mantos reais, pensamos sempre em
vermelho. Alias, em outras ocaiões que não são a coroação, usam vermelho também.
Mas o vermelho, cor do
sangue, é também símbolo do martírio.
Rainha da Escócia Mary
Stuart, que por muitos anos foi rival de Elisabeth I, vestiu-se de
vermelho para a execução: "Na proximidade do último instante
sangrento, Mary Stuart colocou um vestido de seda rubra e ordenou que
fossem fabricadas luvas longas, até o cotovelo, cor de fogo, para
que o sangue, jorrando sob o machado, não ficasse tão visível nas
suas roupas. Mal a capa negra e as roupas escuras caem dos ombros
dela, e o vestido rubro flameja, e quando as criadas colocam as luvas
de fogo nela, parece que uma chama vermelha brilha - uma visão
grandiosa e inesquecível".
Ah, os carrascos se
vestiam de vermelho também.
E Elisabeth I também =)
Começa o século 17, e
o vermelho recua um pouco. Mas não desaparece.
Meias vermelhas dos
senhores, saltos vermelhos dos seus sapatos, forros vermelhos das
roupas. E no palco, atores que representam apaixonados, vestem-se de
vermelho...
Mas há vestidos vermelhos também, por mais que não esteja na moda.
Ah, a roupa dos cardeais também é vermelha.
Richelieu
Homens também se vestdem de vermelho, porque não?
No século 18, cores
mais suaves estão na moda, mas o vermelho não desaparece: gravatas
e lenços vermelhos, trajes de montaria, espartilhos vermelhos...
Ou simplesmente vestidos =)
Também aparece bastante na forma de listras e flores:
Sem contar as roupas masculinas: vermelho é a cor dos uniformes do exército britânico, por exemplo.
Não íamos falar sobre
política, mas como esquecer o chapéu vermelho dos revolucionários
franceses, e as fitas vermelhas nos pescoços das mulheres, lembrando
a marca da guilhotina.
E no século 19, o
vermelho retorna.
Inclusive nas roupas de baixo:
Uma jaqueta no estilo zouave, muito na moda na década de 60:
Principalmente tons de vermelho: vermelho escuro,
vermelho claro, vinho, ferrugem...
Vejamos um dolomã,
emprestado pelas senhoras do traje masculino, em particular do
uniforme dos hussardos. Tornou-se popular na década de 1870, na era
do bustle: os dolomãs relativamente curtos ajustavam-se bem à nova
silhueta.
Vestidos vermelhos, jaquetas vermelhas...
Como não consigo fazer
um post sem mencionar "E o vento levou...", vou falar do
filme dessa vez. Scarlett e seu famoso vestido vermelho. Ela aparece
vestida de vermelho na frente dos conhecidos, que estão prestes a
condená-la...
Não procurem este
vestido no livro, no livro ela usa um verde-jade, com rosas de veludo
na saia. O vestido descrito parece muito bonito, mas... É justamente
o vermelho que desafia a sociedade: "Sim, sou assim mesmo. Neca
de vergonha. Eu faço o que quiser".
Cor forte, decote
profundo, penas, tule, bordados: tanto no filme, quanto no livro,
Scarlett não deveria parecer uma lady, mas sim uma mulher decaída.
Ela não é uma lady mesmo, mas é uma vencedora.
Maria Feodorovna da Rússia
E começa o século 20,
século dos vestidos de festa vermelhos.
Os designers adorarão o
vermelho, e milhares de mulheres usarão batom vermelho... Sapatos
vermelhos. Forros vermelhos das roupas pretas. Ou mesmo um vestido
vermelho.
Afinal, que mulher não merece ser uma rainha?