Ter filhos era algo perigoso e complicado para a mulher, e nem todas elas, em particular as das classes menos favorecidas, compartilhavam a visão teórica de que mulheres deveriam “tomar conta da casa, satisfazer os desejos dos homens e ter filhos”.
Quais possam ser os sentimentos de uma jovem esposa quando ela suspeita pela primeira vez que será mãe, eu dificilmente posso imaginar. Se ela pensar corretamente, agradecerá a Deus pois não há ofício mais elevado e sagrado que o de uma mãe. É realmente maravilhoso quão sedo a jovem mãe, se ela for uma verdadeira mulher, descobre ser fácil cumprir as obrigações dela para com o bebê.
A maior parte das mulheres sabia, a partir da experiência prática, que isso estava longe de ser verdade.
Para começar, a gravidez era frequentemente uma surpresa para as mulheres da era vitoriana. As mães tinham vergonha de explicar para as filhas alguns detalhes íntimos, e a ignorância nessas questões era assustadora. Às vezes, a mulher compreendia que não era aquele prato favorito dela que a fazia engordar somente nos últimos meses da gestação. “Cerca de um mês antes de o bebê nascer, eu me lembro de perguntar a minha tia por onde o bebê sairia. Ela ficou estupefata e não me explicou muita coisa”.
Na melhor das hipóteses, a vergonha revestia-se de eufemismos. Por exemplo, a autora de um livro sobre este tema utilizou a seguinte descrição: “chega um momento na vida de toda lady em que ela deve afastar-se da sociedade e ouvir a si mesma”.
Era considerado desfavorável se um cavalheiro a visse num determinado momento da vida. Supunha-se que mesmo o pai não tinha idéia do que estava acontecendo em sua casa. Ele não perguntava por que a mãe está com náuseas e ela muitas vezes foi vista com lágrimas nos olhos.
Como nada se falava sobre o estado da mulher, também não se julgava necessário aliviar de alguma forma a vida dela. As mais pobres continuavam trabalhando até o parto, e mesmo nas casas de classe média esperava-se que a mulher irá cumprir as suas funções de dona de casa, tal como ela fazia anteriormente, sem quaisquer descontos.
Entre as classes mais abastadas, porém, o quadro era totalmente diferente. Àquelas que poderiam permitir-se ficarem ociosas durante a gravidez, dizia-se que se movimentar demais faz mal a saúde. As senhoras preferiam não se mostrar à sociedade, permanecendo afastadas durante alguns meses, e preparando as roupas para o bebê e para si mesmas.
O parto por si só era algo muito mais arriscado do que hoje em dia. Em média, na Grã-Bretanha, uma gravidez em 200 levava a morte da mãe no século 19. Para fins de comparação, atualmente, a taxa de média de mortalidade materna dos países desenvolvidos é de uma morte a cada 5000 gestações.
O parto poderia ser acompanhado tanto por uma parteira quanto por um médico – na primeira metade do século 19, não se requeria nenhuma licença para essa atividade. Na metade do século, todas as mulheres da casa estavam presentes durante o parto: irmãs, tias, criadas corriam pra cima e pra baixo pela escada com jarras de água fervida. Mas depois de 1860, quando os médicos e as enfermeiras ganham prioridade para permanecer ao lado das parturientes, mesmo as parentes mais próximas são expulsas do quarto.
Depois do nascimento da criança, a mãe era cercada de cuidados, e não permitiam que levantasse da cama durante nove dias. Era alimentada de colherzinha, não sendo recomendado nem mesmo sentar-se na cama. Todas as janelas estavam fechadas, para que ela não se esfriasse.
Em muitas famílias aristocráticas, insistia-se que a mulher permanecesse de cama até um mês depois de dar a luz. Nas famílias humildes, por outro lado, não havia recursos para deixar a mulher no ócio, e muitas vezes a interrupção do trabalho dela era muito breve.
A obstetrícia tornou-se uma matéria obrigatória para estudantes de medicina em 1833 na Escócia e só em 1866, na Inglaterra. A primeira cesareana bem sucedida na Inglaterra foi realizada ainda no final do século 18, em 1793, pelo Dr. James Barlow. Só lembrando, não havia anestesia na época. Em meados do século 19, a mortalidade permanece alta, e a cesariana era freqüentemente combinada com a retirada do útero. Em 1880, com o advento da assepsia, foram desenvolvidas técnicas menos invasivas e a "operação clássica" - uma incisão vertical na parte superior do útero - se tornou cada vez mais utilizada. Esses cortes, contudo, curavam mal, e em 1906 foi introduzida a cirurgia moderna na “parte inferior”, que tinha um risco menor de perfuração subseqüente.
Em 1874, James Young Simpson utilizou um analgésico durante o parto, pela primeira vez – o clorofórmio. Agradecida, a paciente chamou a filha de Anestesia. A ideia de Simpson encontrou muita resistência entre os médicos e a parte mais conservadora da sociedade. Mas em 1853, John Snow aplicou clorofórmio na própria rainha Vitória, durante o parto do oitavo filho dela, e desde então o seu uso se difundiu universalmente. E Simpson recebeu um título de nobreza.
Também foram encontradas formas de combater a maior causa de morte entre as parturientes – a febre pós-parto. Os médicos receitavam ópio, conhaque e até mesmo champanhe, mas isso somente aliviava o sofrimento. Finalmente, em 1846, alguém teve a ideia genial de introduzir medidas preventivas simples, como lavar as mãos com sabonete ou desinfetar a água com cloro antes de usá-la durante o parto. A taxa de mortalidade das mulheres caiu bruscamente. Nos anos 60, começaram a ser desenvolvidos os primeiros anti-sépticos, e dez anos depois eles já eram empregados na obstetrícia.
Claramente, isso tudo estava reservado para as classes mais abastadas. Nas famílias mais simples, o dinheiro estava sempre em falta, e a mulher era geralmente a primeira a ficar sem, inclusive o dinheiro para pagar um médico. Trabalho pesado durante e imediatamente após a gravidez era normal. Uma mulher escreveu: "Se ela estivesse confinada em uma sexta-feira, ela ainda teria que planejar e colocar de lado o dinheiro de sábado e se não durar o suficiente, ela seria a única a ficar sem ou passar nervoso". A maioria das mulheres sofriam, durante a gravidez, de mal estar constante, varizes, mãos e pés inchados ou neuralgia, e davam à luz em casa, em condições totalmente anti-higiênicas. E, claramente, por motivos financeiros e filosóficos, ninguém chamava um médico: "Eu tinha como certo que as mulheres tinham que sofrer neste momento, e que era melhor ser corajosa e não fazer alarde”.
E, tal como em todas as áreas relacionadas a sexo, “se uma mulher morresse, isso somente provava a fraqueza dela e a incapacidade de ser mãe”.
1860. Uma jaqueta como esta servia para disfarçar a barriga por ocasião de aparições públicas.
Numa foto rara, uma jovem grávida. Observe que não é ela que está sentada.
1871. Uma prostituta de onze anos, grávida.
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at quinta-feira, outubro 07, 2010
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