1862-1865 Morning Dress  

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O Incômodo Mensal - Parte II  

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Os documentos daquela época contam um pouco sobre a higiene durante a menstruação. A maior parte das informações foi retirada de fontes americanas, mas é muito provável que os mesmos meios fossem usados na Europa.

Por exemplo, são descritos absorventes de pano, um pouco menores que uma fralda. Os absorventes eram lavados e reutilizados. Alias, trabalho leve em casa era considerado a melhor forma de regular a menstruação e diminuir a dor. Por outro lado, a leitura e qualquer atividade intelectual consumiam energia demais e diminuíam o fluxo de sangue na área genital, com isso causando danos irreparáveis para o organismo da mulher.

Além disso, existiam fórmulas variadas, populares ou patenteadas, para interromper o corrimento de sangue. Um manual de Marion Harland, publicado em 1882, recomenda alguns remédios caseiros para os desconfortos da menstruação, como chá quente de gengibre para as cólicas. Um exemplo mais cabeludo, o bálsamo do doutor Chase:

Pegue 2,5 drs (1 dracma - 3,69 gramas) de ácido sulfúrico, adicione lentamente uma dracma de terebentina, mexendo constantemente com o pilão, e um dracma de álcool. Mexa até que a mistura deixe de fumegar, em seguida coloque-a em um frasco de vidro fechado. A mistura deve ser transparente, vermelho como sangue escuro. Se for feita a partir de materiais de baixa qualidade, será uma cor pálida, suja e será inapropriada para uso. Dose - adicione 40 gotas em um copo de chá, esfregue com uma colher de chá de açúcar mascavo, misture com água até que a xícara esteja quase cheia, e beba imediatamente. Repita a cada hora, durante 3-4 horas, mas o uso deve ser interrompido assim que não apareça mais sangue fresco. A droga não estraga com o passar do tempo, mas uma crosta forma-se na superfície, e deve ser quebrada, usando-se o remédio embaixo dela.

Honestamente, prefiro limão com sal. É especialmente encantadora a passagem “até que deixe de fumegar”, e creio que uma mulher deve ser muito corajosa para consumir esta substância.

O livro do doutor Chase tinha muitas outras receitas de como envenenar-se de forma mais eficiente.

Voltando aos absorventes, a questão que não quer calar é como as pobres mulheres vitorianas se viravam?

Os tampões eram utilizados ainda pelas egípcias, muitos anos antes de Cristo. Eram confeccionados de papiro, e provavelmente eram bem desconfortáveis, já que não é algo exatamente macio. Na Grécia Antiga, eram usados palitos de madeira leve enroladas em linho, no Japão – papel, na África, grama. Ainda assim, pelo que se sabe, tampões não eram utilizados no século 19.

Mas o que elas faziam, então?

Dependia, o mais provável, da posição social da mulher. Algumas não usavam absolutamente nada, e deixavam o sangue escorrer pelas saias, que elas também não trocavam durante vários dias (nem todas tinham saias o suficiente para uma menstruação prolongada). Muitas vezes, nas fábricas onde as mulheres trabalhavam, o chão era forrado de feno, para que aquele absorvesse as secreções. E não era preciso ser um detetive experiente para descobrir que uma mulher menstruada passou pelo quarto. Resumindo, eca. Não eram somente as mais simples que preferiam o princípio de “ deixe escorrer, não incomoda ninguém”, mas também mulheres da classe média. Muitas achavam que os absorventes congestionam o fluxo de sangue, o que é extremamente ruim. Algumas mulheres costuravam roupas íntimas escuras para esses dias.

Mas nem todas poderiam se permitir tamanha liberalidade com a menstruação. Em particular, as atrizes – podemos somente imaginar o que o público faria se ouvisse de Adelina Patti: “Não, hoje não vou cantar para vocês, nem amanhã, mas vou ficar a semana inteira em casa e tomar chá de ácido sulfúrico”. Se você é uma atriz, querendo ou não deve aparecer no palco. Não é de se surpreender que as primeiras propagandas de absorventes eram direcionadas justamente às atrizes.

Também é difícil imaginar uma senhorita aristocrática que em plena época de bailes se trancaria em casa, com saias escuras, enquanto as amigas dela fisgam os homens ricos e nobres.

Assim, os elementos mais progressivos da sociedade utilizavam absorventes.

No século 19, na Europa, os absorventes eram utilizados tanto pelas ricas, quanto pelas pobres. No caso desas últimas, eras somente uns panos velhos. Aquelas que podiam permitir-se isso, faziam uso de algo mais fino. Normalmente, uma mulher mais ou menos abastada tinha vários absorventes: deixava-os de molho durante a noite, e lavava um dia depois, e depois penduravam para secar. Quando as mulheres viajavam, elas ou estocavam os absorventes sujos para lavar em casa mais tarde, ou os queimavam. Alias, vendiam-se fogareiros portáteis especialmente para este fim. Os absorventes poderiam também ser tricotados, e a produção deles certamente era uma ocupação prazerosa para as horas de lazer.

No final do século 19, surgiram os absorventes descartáveis, porém a sua produção em massa enfrentou o problema de propaganda insuficiente. O que era de se esperar, já que a menstruação era um assunto mais do que delicado.

Os absorventes descartáveis eram feitos de pano, recheado de algodão, serragem ou musgo. Alguns tinham até uma camada de borracha para evitar vazamentos. Excelente, mas como manter este absorvente no devido lugar? A “lingerie” das mulheres vitorianas não facilitava muito. Assim, existiam aventais protetores e cintas-ligas especiais. O absorvente poderia se prender ao cinto com ganchinhos, e havia mesmo uma espécie de suspensórios... Era recomendado trocar o absorvente umas duas vezes por dia, e queimar os usados, certamente para evitar que alguém os veja por acidente.

Algumas ilustrações...


1870 Magasin des Demoiselles  

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1844 La Mode  

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1856 Le bon ton  

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1875-1879: Vestidos Listrados  

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Continuação dos vestidos listrados.


1875

1876
1877


1878


1879

Veja também:

1870-1874: Vestidos Listrados  

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Estou com preguiça de escrever, portanto segue uma pequena coleção de fashion plates do meu período favorito, com vestidos listrados. Não sei porque exatamente me interessei por listras, talvez porque, recentemente, um amigo meu me encheu o saco para comprar um vestido xadrez. E enquanto procurava por xadrez, encontrei listras.

Para um forum do qual participo.


1870

1871

1872

1873

1874


Veja também:

1862 Le Moniteur de la Mode  

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O Incômodo Mensal - Parte I  

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“E ela mesma arruinou a própria saúde: quando queria ir a um baile, tomava um limão com sal, para interromper as regras. As moças tinham uma superstição boba a esse respeito. Imaginavam que um homem tocará a sua mão, ou mesmo só olhará – e logo compreenderá tudo sobre a sua indisposição”.
Katherine Anne Porter, “Old Mortality”
 Mary Cassat, Young Lady Reading

Vou adiantar uma coisa, a senhorita acima vai ter cólicas fortíssimas, a menos que alguém arranque esse livro dela o mais rápido possível.

São poucos os tabus tão fortes e universais quanto os relacionados à menstruação. Até mesmo Marques de Sade, em seus livros, não demonstra muito interesse no assunto. Se bem que, convenhamos, cachorros decapitados, fezes e homens castrados são assuntos bem mais divertidos. Não é de se surpreender que, durante a era vitoriana, muito pouco espaço era reservado à discussão deste assunto.

É difícil imaginar quão pouco os médicos e os cientistas, sem falar nos meros mortais, sabiam sobre o corpo humano no século 19. Na primeira metade do século, acreditava-se, por exemplo, que os óvulos desciam dos ovários somente como consequência do ato sexual.

As teorias cientificas eram fortemente influenciadas pelas doutrinas éticas e sociais prevalentes acerca da inferioridade da mulher: a ciência refletia, em vez de determinar, as questões morais da época...

As mulheres da era vitoriana tinham muitas ocupações. As mais pobres, frequentemente, carregavam nas costas todos os trabalhos da casa: cozinhar, lavar roupa, limpar a casa, cuidar dos filhos, aturar o mau humor do marido... Uma senhora mais abastada deveria embelezar a sala de visitas e cumprir as suas obrigações sociais – também não era a ocupação das mais simples, agradar pessoas que lhe são profundamente desagradáveis, mas de quem depende toda a carreira do seu marido. O último, mas não o menos importante, tanto essas quanto aquelas deveriam parir filhos.

Apesar de todos estes encargos, as mulheres eram consideradas o sexo frágil, propenso a toda sorte de moléstias. O útero era tido como a fonte principal dessas e, obviamente, estava cercado de inúmeros mitos. Muitos destes mitos diziam respeito à menstruação – misterioso mal sobre o qual meditavam inúmeros médicos e críticos sociais. A opinião popular dizia que, durante a menstruação, a mulher está em perigo:

No decorrer deste período, a mulher não está se sentindo bem ou não está em ordem. Várias sensações desagradáveis estão associadas a ela [menstruação]; mas quando é acompanhada de dor intensa, o que não é raro, passa a ser uma doença, e a mulher não pode conceber, enquanto não se curar. Durante as assim chamadas “regras” deve-se evitar comida difícil de digerir, danças em salas quente, contatos repentino com frio ou calor, bem como a excitação emocional.
Charles Knowlton, 1832

De acordo com os médicos e outros indivíduos mais ou menos inteligentes e bem intencionados, nada piorava o estado da mulher durante os incômodos mensais tanto quanto atividade intelectual. Não podemos deixar de notar que também em outros períodos esta atividade não era bem vista, mas era particularmente prejudicial durante a menstruação. Os assim chamados especialistas avaliavam de várias formas os danos da leitura. Por exemplo, algumas figuras proeminentes da sociedade lamentavam somente a leitura de romances. Em 1870, Orson Fowler, frenólogo americano, atacou estes rabiscos tão nocivos:

A leitura que estimula emoções e inflama as paixões pode provocar ou aumentar o congestionamento do útero, o que por sua vez pode levar a várias moléstias, incluindo (…) menstruação dolorosa.

O refrão para todas essas sentenças era: “E ela enlouqueceu”. Conhecendo o desenvolvimento da psiquiatria daqueles tempos, podemos afirmar com toda a convicção que ninguém queria enlouquecer naquela época. Nada de bom esperava o pobre coitado. Ainda assim, não é muito crível que uma jovem deixaria de lado, digamos o “Morro dos Ventos Uivantes” que não terminou de ler, impressionada pelas admoestações dos moralistas.

Se bem que outros iam mais longe ainda, condenando não somente as histórias de amor, mas também a educação superior para mulheres em geral. Nesta área, os americanos se destacaram bastante. Assim, em 1873, o doutor Edward Clarke de Harvard publicou um livro chamado “Sexo na Educação”. Este trabalho comunicava que a educação superior mina a capacidade reprodutiva das mulheres, obrigando-as a trabalhar num momento crítico do desenvolvimento delas. Enquanto as feministas americanas escreviam contra-argumentos, vários ativistas do outro lado do oceano armaram-se com o livro de Clarke. Pois ele provava, sob perspectiva médica, que proibir o acesso das mulheres à educação superior é uma ação extremamente benigna. Pois a própria Natureza criou as mulheres para uma função diferente daquela dos homens, e esforços intelectuais excessivos durante a menstruação podem levar a uma série de doenças. Obviamente, também as feministas inglesas ficaram descontentes com essa afirmação.

O processo de crescimento, passagem do mundo da infância para o mundo cheio de tentações dos adultos era assustador. E, provavelmente, mais assustador para os médicos que para as suas pacientes. Inúmeros livros sobre fisiologia e higiene, dedicados às adolescentes, criavam a figura de uma criança frágil, terrivelmente assustada com as mudanças que ocorrem com o corpo dela. Essa menina normalmente suspirava, chorava sem motivo e era muito tímida.

E provavelmente mais assustador do que para os médicos para seus pacientes. Muitos livros sobre a fisiologia e higiene, em adolescentes, uma imagem de uma criança frágil, com medo de mudanças ocorrendo a morte de seu corpo. Esta menina é geralmente suspirou, deixou cair as lágrimas involuntárias e geralmente tímido de pessoas.

Obviamente, ninguém poderia dar explicações sobre uma coisa tão vergonhosa quanto menstruação a essa inocente criatura. As meninas muitas vezes não sabiam que medidas higiênicas deveriam tomar, e achavam que o que estava acontecendo com elas era algo ruim.

O sentimento de culpa era bastante difundido entre as mulheres da era vitoriana. A menstruação era considerada uma doença de modo geral, e uma menstruação acompanhada de forte desconforto, uma doença particularmente vil e antinatural. A opinião popular sobre o assunto preferia a versão de que “é tudo culpa dela mesma”.

Se alguma etapa da menstruação é acompanhada de dor, significa que há algo errado ou com a roupa, ou com a dieta, ou com o comportamento da mulher.

E como era culpa dela, a mulher que havia, por exemplo, lido um romance de arrancar lágrimas antes de dormir, não tinha direito de reclamar, e muito menos incomodar aqueles que a cercavam com os próprios problemas. Em 1885, a americana Almira McDonald escreveu no diário dela:
19 de abril – Tenho regras, dor forte o dia todo – que pena que me sinto tão mal, isso pode chatear Angus (marido dela).
20 de abril – Às 9:40, Angus pegou o trem para Chicago. Me sinto melhor. É tão ruim que ele vai embora quando me sinto mal, mas é preciso esperar o melhor.

Bibliografia:

1832 Ladie's Museum  

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Crime Album Stories  

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22 de Maio de 1901
Meu muito querido papai
Eu desejo sinceramente que a verdade sobre este caso horrível seja descoberta logo, e nos seremos libertados da angústia que nos tortura. Eu rezo a Deus por você, querido papai, esperando que Ele ouça uma criança aflita. Minha tia se une a mim em beijar você. Receba os protestos dos meus sentimentos afetuosos e dedicados.
Sua filha que te ama.



1880 Revue de La Mode  

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