Vamos à praia!  

Posted by Moriel in , , , , , , , , , ,

A pedido de Maria, um pouco sobre banhos de mar.

Foi no início do século 19 que as pessoas começaram a buscar divertimento à beira-mar. Com a construção de ferrovias, as praias tornaram-se ainda mais populares. Juntamente com o novo passatempo, apareceu, é claro, uma roupa apropriada para a ocasião. Resorts em que pessoas banhavam-se publicamente começaram a surgir.

O banho típio, na época, consistia e um breve mergulho na água, com senhoras de um lado da praia, e cavalheiros do outro.

Apesar de estar na moda, era considerado apropriado que a pele permanecesse branca, sem contar as questões de modéstia. Assim, os primeiros trajes específicos para passeios na praia eram, obviamente, vestidos.

1797

Para entrar na água, as mulheres embarcavam em carroças fechadas, as bathing machines, que as levavam até a água. Muitas costuravam pesinhos ao vestido, para evitar que o tecido flutuasse e mostrasse acidentalmente as suas pernas.

Pela metade do século, banhos passaram a ser mais uma recreação que um instrumento terapéutico. Inovações como estradas de ferro tornaram praias públicas mais acessíveis.

Aos poucos, o modelo foi se modificando, sem deixar de cobrir o corpo todo. O vestido encurtou até o joelho, mostrando calças largas, no estilo Turco.

1864

Os homens, enquanto isso, banhavam-se frequentemente nus. Aos poucos, contudo, esta prática foi banida, devido ao grande afluxo de público para as praias.

Nos resorts, como a água, perto da praia, é rasa, e há grande movimento de gente, as pessoas se trocavam dentro das bathing machines. Para ocultar o indecente ato de se banhar, homens e mulheres entravam nessas pequenas casinhas sobre rodas, que eram puxadas até um lugar fundo por cavalos, e depois trazidas de volta à praia. Dentro da bathing machine, a pessoa poderia se trocar e vestir o seu traje de banho. Escuras e pouco confortáveis, garantiam, em compensação, a decência.


Mais tarde, adicionou-se uma escada coberta, para que a senhora, coberta de flanela ensopada, pudesse voltar à bathing machine sem ser vista.

Até final do século, o traje de banho coninuou diminuindo. Vestidos, geralmente pretos, ainda chegavam até o joelho, mas a calça foi substituida por meias negras.

As atividades como natação e mergulho tornavam-se cada vez mais populares, e os trajes vitorianos passaram a estorvar os banhistas.

Por volta de 1880, introduziu-se o modelo novo, que consistia de blusa e calças numa peça só. As saias foram inteiramente substituidas por calças.

1880

Finalmente, por volta de 1910, as roupas de banho diminuitam até um macacão bastante justo e bem aberto, em comparação com seus antecessores.

Deve-se também mencionar alguns locais populares para banhos na Era Vitoriana.

Os maiores resorts vitorianos, e especialmente aquelas que atendiam ao mercado em rápida expansão das férias da classe trabalhadora do final século XIX, principalmente Blackpool e Southend, também oferecido como "palácios do prazer": combinação de music-hall, variedades e danças com amplo leque de diversões, tais como jardins zoológicos, teatros, cinemas, aquários, lagoas com gôndolas venezianas e gondoleiros, jardins de recreio e exposições. Este tipo de entreteinimento atingiu seu ápice na Blackpool Tower (aberta ao público em 1894) e Jardins de Inverno, na mais ambiciosa ainda Tower at New Brighton, um fracasso financeiro que foi demolido logo após a Primeira Guerra Mundial.

Torre de Blackpool

As diversões incluiam também passeios na praia, afinal os adultos respeitáveis não poderiam brincar na água, passatempo exclusivo das crianças e das babás. O maior destaque da praia não era o banho matutino, mas o passeio da tarde. Saía-se para ver e ser visto.

Brighton

Certamente, o resort mais popular era Brighton, sua popularidade sendo impulsionada pela proximidade a Londres. Outros destinos populares eram Blackpool, Southport, Scarborough, Llandudno, Ramsgate, Margate, Weymouth, Torquay, Dover, Ilfracombe, Ryde, Cowes e Worthing

Alias, Whitby, cenário de alguns eventos de um livro clássico sobre vampiros, era também um local a beira-mar bastante frequentado.

Algumas imagens de pessoas em trajes de banho:


Bathing machines:


E simplesmente praias:

Gare Montparnasse  

Posted by Moriel in , ,


Gare Montparnasse ficou famosa pelo descarrilhamento de um trem no dia 22 de outubro de 1895. A locomotiva do Expresso Granville-Paris passou por cima do buffer no final da linha, cruzou quase 30 metros do saguão da estação, atravessou uma parede de 60 centímetros de espressura e avançou para fora da estação, despencando para a Place de Rennes, 10 metros abaixo. Todos dentro do trem sobreviveram, uma mulher na rua morreu sob escombros. O acidente foi causado por uma falha no freio, combinada com a pressa do condutor.

Monólogo da esposa de um bombeiro de Chernobyl 5  

Posted by Moriel in ,

Vieram todos... Pais dele, meus pais... Compraram xales negros em Moscou... Uma comissão especial nos recebeu. E falava a mesma coisa a todos, que não podemos lhes entregar os corpos de seus maridos, seus filhos, eles são muito radioativos e serão sepultados no cemitério de Moscou de forma adequada. Em caixões de zinco soldados, sob placas de cimento. E vocês devem assinar este documento... É necessária a sua autorização... Se alguém indignava-se, queria levar o caixão para a terra natal, convenciam, argumentavam que eles são meio que heróis e não pertencem mais a família. São agora homens de estado... Pertencem ao estado.

Entramos no ônibus... Parentes e uns militares. Coronel com rádio... Dizem pelo rádio: “Espere nossas ordens! Espere!” Rodamos por Moscou por duas ou três horas, pelo anel viário. Voltamos a Moscou... Pelo rádio: “Não permitimos a entrada no cemitério. O cemitério está cercado de repórteres estrangeiros. Esperem mais”. Os pais estão calados... O xale da mãe é negro... Eu sinto que estou desmaiando. Estou histérica: “Porque precisamos esconder meu marido? Quem é ele? Assassino? Criminoso? Bandido? Quem estamos enterrando?” Mamãe: “Calma, calma, filhinha”. Passa a mão na minha cabeça, segura pela mão. O coronel transmite: “Permitam seguir para o cemitério. A esposa está histérica”. No cemitério, fomos cercados de soldados. Seguimos sob vigilância. E o caixão foi carregado sob vigilância. Não deixaram ninguém despedir-se... Só os parentes... Enterraram em um instante. “Rápido! Rápido!” - ordenava o oficial. Não deixaram nem abraçar o caixão.

E de volta aos ônibus...

Em um instante, compraram e trouxeram passagens de volta... Para o dia seguinte... O tempo todo, um homem em traje civil, mas com jeito de militar, estava conosco, não deixou nem mesmo sair do hotel e comprar comida para a viagem. Para que não falássemos com ninguém, especialmente eu. Como se eu pudesse falar então, eu já não conseguia nem chorar. A administradora, quando nos saíamos, contou todas as toalhas, todos os lençóis... E ali mesmo os guardava num saco plástico. Creio que os queimaram... Nos mesmos pagamos pelo hotel... Por quatorze dias...

Hospital de doença radiológica aguda – quatorze dias... Em quatorze dias, uma pessoa morre...

Em casa, adormeci. Cheguei em casa e desabei sobre a cama. Dormi por três dias... Não conseguiam me acordar... Veio a ambulância. “Não, - disse o médico, - ela não morreu. Ela vai acordar. É só um pesadelo”.

Eu tinha vinte e três anos...

Eu lembro do sonho... A minha avó falecida aparece para mim, na roupa com que a havíamos enterrado. E arruma uma árvore de natal. “Vovó, porque a árvore de natal? Não é verão agora?” - “É necessário. Seu Vássenka vai me visitar em breve”. E ele cresceu no meio da floresta. Eu lembro... Segundo sonho... Vássia vem todo de branco e chama a Natacha. Nossa menina, que ainda não nasceu. Ela já é grande, e eu me surpreendo: quando é que ela cresceu tanto? Ele a joga para o alto, e eles riem... E eu olho para eles e penso que a felicidade é tão simples. Tão simples! E depois eu sonhei... Estamos andando na água com ele. Andamos por muito tempo... Pediu, provavelmente, para que eu não chorasse. Deu um sinal de lá. Do alto.

Dois meses depois, fui a Moscou. Da estação, para o cemitério. Até ele! E lá no cemitério, as contrações começaram. Mal comecei a falar com ele... Chamaram a ambulância. Eu passei o endereço. O parto foi lá mesmo... Com a mesma Angelina Vassílievna Guskova... Ela ainda então havia me avisado: “Vai dar à luz aqui”. E para onde mais eu iria? Foi duas semanas antes do prazo...

Mostraram-me... Menina... “Natáchenka, - chamei eu. - Papai te chamou de Natáchenka”. Criança de aparência saudável. Pezinhos, bracinhos... E ela tinha cirrose... No fígado, vinte e oito roentgen... Problemas cardíacos inatos... Quatro horas depois, disseram que a menina morreu. E novamente, não vamos entregá-la para você! Como assim não vão?! Sou eu que não vou entregá-la para vocês! Vocês querem levá-la para a ciência, e eu odeio a sua ciência! Odeio! Ela me tomou primeiro ele, e agora ainda espera... Não entregarei! Vou enterrá-la eu mesma. Do lado dele...

Não são as palavras certas que estou dizendo... Não são... Não posso gritar depois do derrame. E não posso chorar. Mas eu quero... Quero que saibam... Não confessei a ninguém ainda... Quando eu não lhes entreguei a minha pequena menina. Nossa menina... Então eles me trouxeram uma caixinha de madeira: “Ela está dentro”. Eu olhei: vestiram-na. Estava com as roupinhas. E então eu comecei a chorar: “Coloquem do lado dele. Digam que é a nossa Natáchenka”.

Ali, no túmulo, não está escrito: Natacha Ignatenko... Lá só tem o nome dele... E ela ainda não tinha nome, não tinha nada... Só a alma... Foi a alma que enterrei ali...

Venho sempre com dois buquês: um para ele, o segundo eu coloco no cantinho para ela. Me arrasto de joelhos na frente do túmulo... Sempre de joelhos... Eu a matei... Eu... Ela... Salvou... Minha menina me salvou, tomou para si toda a radiação, como se fosse um receptor. Tão pequena. Pequenininha. Ela salvou-me... Mas eu amava ambos... Será... Será que é possível matar com amor? Tamanho amor!! Porque são tão próximos? Amor e morte. Estão sempre juntos. Quem poderia me explicar? Me arrasto de joelhos na frente do túmulo...
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5

Monólogo da esposa de um bombeiro de Chernobyl 4  

Posted by Moriel in ,


Fezes vinte e cinco a trinta vezes ao dia. Com sangue e pus. A pele começou a rachar nos braços, nas pernas... O corpo todo cobriu-se de bolhas. Quando ele mexia a cabeça, ficavam tufos de cabelos no travesseiro... E tudo é tão querido. Amado... Eu tentava brincar: “Até é cômodo. Não é preciso trazer pente”. Em pouco tempo, rasparam as cabeças de todos eles. Eu mesma cortei o cabelo dele. Eu queria fazer tudo. Se eu pudesse aguentar, as vinte e quatro horas eu não me afastaria dele. Tinha pena de cada minutinho... Um só minutinho, e que pena... Chegou o meu irmão e se assustou: “Não vou deixar você voltar para lá!” E o pai diz para ele: “Não vai deixar essa daí? Vai entrar pela janela! Pela escada de incêndio!”

Me afastei... Retorno – uma laranja na mesinha dele... Grande, não amarela, mas quase cor de rosa. Sorri: “Deram-me. Pegue”. E a enfermeira, do outro lado do plástico, acena que não se deve comer essa laranja. Como ficou do lado dele por algum tempo, nem se fala em comer, dá medo até de tocar. “coma, vai, - pede. - Você gosta de laranja”. Eu pego a laranja nas mãos. E ele, nesse instante, fecha os olhos e adormece. Lhe davam injeções o tempo todo para que ele dormisse. Drogas. A enfermeira me olha apavorada... E eu? Eu estou disposta a fazer qualquer coisa para que ele não pense sobre morte... E que a doença dele é terrível, e que eu tenho medo dele... Pedaço de uma conversa... Na minha memória... Alguém argumenta: “Você não deve esquecer: ali não está mais o seu marido, pessoa amada, mas um objeto radioativo com alta densidade de contaminação. Você não é uma suicida, afinal. Controle-se”. E eu, como louca: “Eu o amo! Eu o amo!” Ele dormia, eu sussurrava: “Eu te amo!” Andava pelo corredor do hospital: “Eu te amo!” Carregava o penico: “Eu te amo!” Lembrava como nos vivíamos antes... No nosso albergue... Ele adormecia à noite só quando segurava a minha mão. Ele tinha esse hábito: enquanto dormia, segurar a minha mão. A noite toda.

E no hospital, eu é que pego na mão dele e não solto...

Noite. Silêncio. Estamos sozinhos. Me olhou com muita atenção e subitamente falou:

  • Quero tanto ver o nosso bebê. Como será que é?
  • E como vamos chamar?
  • Bem, isso é você mesma que vai inventar...
  • Porque eu mesma, se somos dois?
  • Então, se nascer um menino, que seja Vássia, e se menina, Natachka.
  • Como assim Vássia? Eu já tenho um Vássia. Você! Não preciso de outro.

Eu ainda não sabia o quanto o amava! Ele... Só ele... Como cega! Até mesmo não sentia empurrões sob o coração... Apesar de estar de seis meses já... Eu pensava que ela está dentro de mim, minha pequena, e está protegida. Minha pequena...

Que eu pernoitava na câmara dele, nenhum dos médicos sabia. Não suspeitavam. As enfermeiras me deixavam entrar. No começo, também tentavam convencer: “Você é nova. O que é que está inventando? Não é uma pessoa, é um reator. Vão queimar juntos”. Eu, como cachorrinho, corria atrás delas... Passava horas na porta. Pedia-implorava. E então elas: “Que o diabo te carregue! Você é louca”. De manhã, antes das oito horas, quando começavam as visitas dos médicos, acenam através do plástico: “Fuja!”. Fujo por uma hora para o hotel. E das nove da manhã até as nove da noite, tenho autorização. As pernas ficaram roxas até o joelho, incharam, de tanto que me cansava. Minha alma era mais forte que o corpo... Meu amor...

Enquanto estava com ele... Não faziam isso... Mas, quando saía, o fotografavam... Nenhuma roupa. Nu. Só um lençol leve por cima. Eu trocava todo dia esse lençol, e à noite ela estava ensanguentada novamente. Levanto ele, e nos meus braços ficam pedacinhos de pele, grudam. Peço: “Querido! Me ajude! Apoie-se sobre o braço, sobre o cotovelo, o quanto puder, para que eu alise a sua cama, para não deixar nenhuma costura, nenhuma dobrinha”. Qualquer costura – já é uma ferida nele. Eu cortei as unhas até a carne, para não o arranhar de alguma forma. Nenhuma das enfermeiras tinha coragem de chegar, tocar, se precisa de algo, me chamam. E eles... Eles fotografavam... Diziam que é para a ciência. E eu os expulsaria de lá a pontapés! Gritaria e bateria! Como eles podem! Se eu pudesse não os deixar entra... Se...

Saio do quarto para o corredor... E vou contra a parede, contra o sofá, porque não vejo nada. Paro a enfermeira de plantão: “Ele está morrendo”. Ela me responde: “ O que é que você quer? Ele recebeu mil e seiscentos roentgen, e a dose mortal é de quatrocentos”. Ela também tem dó, mas de outro jeito. E aquilo é tudo meu... Tudo amado.

Quando eles todos morreram, no hospital foi feita uma reforma... Lixaram as paredes, implodiram o piso e levaram embora...

Depois, o último... Lembro por partes... Tudo flutua...

À noite, estou sentada ao lado dele na cadeirinha... às oito da manhã: “Vássenka, vou indo. Descansar um pouquinho”. Abre e fecha os olhos – deixou. Mas chego até o hospital, até o meu quarto, deito no chão, não conseguia ficar na cama, doía tudo, e a auxiliar de limpeza já está batendo: “Vai! Corre até ele! Está chamando sem dó!” E naquela manhã Tanya Kibenok pediu tanto, chamou: “Vamos comigo para o cemitério. Não poderei ir sem você”. Naquela manhã enterraram Vitia Kibenok e Volódia Pravik. Ele era amigo de Vitia, nossas famílias eram amigas. Um dia antes da explosão, tiramos foto juntos no nosso albergue. Eles, os nossos maridos, estão tão bonitos! Alegres! Último dia daquela nossa vida... De antes do Chernobyl... Estamos tão felizes!

Voltamos do cemitério, ligo rapidinho para a enfermeira de plantão: “Como ele está?” - “Morreu há quinze minutos”. Como? Passei a noite toda com ele. Só me afastei por três horas! Fiquei na janela, gritando: “Porque? O que fiz?” Olhava para o céu e gritava... Pro hotel todo ouvir... Tinham medo de chegar perto de mim... Voltei a mim: vou ver pela última vez! Vou ver! Rolei da escada... Ele estava ainda na câmara, não levaram. Últimas palavras: “Liússia! Liússenka!” - “Deu uma saidinha. Já vem”, - tranquilizou a enfermeira. Suspirou e ficou quieto.

Já não desgrudei mais dele... Andei com ele até o caixão... Não me lembro do caixão, mas do grande saco plástico... Esse saco... Perguntaram: “Quer ver com que iremos vesti-lo?” Quero! Vestiram com uniforme de gala, colocaram o quepe sobre o peito. Não conseguiram achar sapatos, os pés incharam. Bolas em vez dos pés. O uniforme de gala também foi cortado, não conseguiam colocar, já não havia mais corpo inteiro. Tudo – uma ferida sangrenta. No hospital nos últimos dois dias... Levanto a mão dele, e o osso está mexendo, solto, os tecidos soltaram-se do osso. Pedacinhos do pulmão, pedacinhos do fígado saíam pela boca... Engasgava-se com as próprias entanhas... Enrolo o braço em gaze e enfio na boca dele, tiro tudo isso de dentro... É impossível contar! É impossível escrever! E até mesmo viver... Era tudo tão querido... Tão... Nenhum tamanho de sapato servia... Colocaram descalço no caixão...

Na minha frente... Enfiaram ele, em uniforme de gala, no saco plástico e fecharam. E foi esse saco que colocaram no caixão de madeira... E o caixão, dentro de outro saco... O plástico é transparente, mas muito grosso. E já tudo isso junto botaram num caixão de zinco, mal conseguiram enfiar. Ficou só o quepe em cima.
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5

Monólogo da esposa de um bombeiro de Chernobyl 3  

Posted by Moriel in ,


Hospital de doença radiológica aguda – quatorze dias... Em quatorze dias, uma pessoa morre...

No hospital, logo no primeiro dia, mediram-me. As roupas, a bolsa, tudo “queimava”. E na mesma hora tomaram tudo isso de mim. Até mesmo as roupas de baixo. Só não mexeram no dinheiro. E deram, em troca, um roupão de hospital tamanho cinquenta e seis para o meu quarenta e quatro, e chinelos quarenta e três em vez de trinta e sete. As roupas, disseram, nos vamos trazer, ou talvez não, dificilmente poderemos “limpá-la”. Foi desse jeito que apareci na frente dele. Assustou-se: “Nossa, o que houve com você?” E eu ainda assim dava um jeito de fazer caldo para ele. Colocava para ferver em uma garrafa de vidro... Jogava ali pedacinhos de galinha... Bem pequenininhos... Depois alguém me deu a panela, uma auxiliar de limpeza ou administradora do hotel. Alguém, uma tábua, na qual eu picava cheiro verde. De roupão, eu não poderia chegar até a feira, alguém me trazia essas verduras. Mas tudo é inútil, ele já não conseguia nem beber... Engolir um ovo cru... E eu queria arrumar alguma guloseima! Como se isso pudesse ajudar. Corri até o correio: “Meninas, - peço, - eu preciso ligar urgentemente para os meus pais em Ivanovo-Frankovsk. O meu marido está morrendo aqui”. De alguma forma, elas adivinharam de cara de onde sou e quem é meu marido, ligaram no mesmo instante. Meu pai, irmã e irmão voaram para Moscou no mesmo dia. Eles me trouxeram as minhas coisas. Dinheiro.

Nove de maio... Ele sempre me dizia: “Você não imagina como Moscou é bonita! Especialmente no Dia da Vitória, quando há fogos de artifício. Eu quero que você veja”. Estou sentada ao lado dele, abriu os olhos:

  • É dia ou noite?
  • Nove da noite.
  • Abra a janela! Os fogos vão começar!

Eu abro a janela. Oitavo andar, toda a cidade na nossa frente! Um buque de fogo no céu.

  • Que lindo!
  • Eu prometi te mostrar Moscou. Eu prometi que, nas festas, te darei flores a vida inteira...

Me virei – tira de baixo do travesseiro três cravos. Deu dinheiro para a enfermeira e ela comprou.

Aproximei-me e beijo:

  • Meu único! Meu amor!

Começou a resmungar:

  • O que é que os médicos te disseram? Não pode me abraçar! Não pode beijar!

Me proibiam de abraçá-lo. De fazer carinho... Mas eu... Eu o erguia e ajudava a se sentar na cama. Trocava de roupas de cama, media a temperatura, trazia e levava o penico... Limpava... A noite toda, do lado dele. Prestava atenção em cada movimento. Em cada respiração.

Bom não ter acontecido na sala, mas no corredor... Tive tontura, me agarrei no parapeito da janela... Um médico passava, ele me segurou pelo braço. E subitamente:

  • Está grávida?
  • Não! - Tive muito medo de que alguém nos ouvisse.
  • Não minta, - suspirou ele.

Fiquei tão confusa que não tive tempo de pedir nada a ele.

Um dia depois, a responsável pelo setor me chama:

  • Porque você me enganou? - perguntou ela, severamente.
  • Não tinha saída. Se eu falasse a verdade, me mandariam para casa. Sagrada mentira!
  • O que você fez!
  • Mas estou com ele...
  • Minha querida! Minha querida...

Durante a vida toda, estarei grata a Angelina Vassílievna Guskova. A vida toda!

As outras mulheres também vieram, mas já não as deixaram entrar. Comigo, estavam as mães deles: permitiram a elas... A mãe de Volódia Pravik pedia a Deus o tempo todo: “Leve-me, que é melhor”.

O professor americano, doutor Gale... Foi ele que fez a cirurgia de transplante de medula... Consolava-me: há esperança. Pequena, mas há. Organismo tão poderoso, um rapaz tão forte! Convocaram todos os parentes dele. Duas irmãos vieram da Bielorrússia, o irmão de Leningrado, servia ali. A mais nova, Natacha, tinha quatorze anos, chorava muito e estava assustada. Mas a medula dela é a que serviu melhor... Eu já posso contar sobre isso... Não conseguia antes. Fiquei dez anos calada... Dez anos...

Quando ele soube que vão retirar a medula da sua irmãzinha mais nova, recusou-se de forma definitiva: “Prefiro morrer. Não toquem nela, ela é pequena”. A irmã mais velha, Liúda, tinha vinte e oito anos, ela própria enfermeira, estava ciente do que iria enfrentar. “Basta que ele viva”, - dizia ela. Eu vi a cirurgia. Estavam deitados um do lado do outro nas mesas... Lá tinha uma grande janela na sala de cirurgia. A cirurgia durou duas horas... Quando terminaram, Liúda estava pior do que ele, dezoito punções, recuperava-se com dificuldade da anestesia. Está doente até agora, inválida... Era uma jovem bonita, forte. Não se casou... E eu então corria de uma sala a outra, dele até ela. Ele já não estava no quarto normal, mas numa câmara especial, atrás de plástico transparente, onde não era permitido entrar. Lá tem uns equipamentos especiais para, sem entrar dentro do plástico, fazer injeções ou colocar cateteres... Mas tudo tem velcro, tem fecho, e eu aprendi a usar... Afastar... E esgueirar-me até ele... Ao lado da cama dele, havia uma cadeirinha... Ele estava tão mal que eu já não podia me afastar, nem por um instante. Me chamava o tempo todo: “Liússia, cadê você? Liússenka!” Chamava, chamava... Outras câmaras onde estavam os nossos rapazes eram cuidadas por soldados, porque os enfermeiros civis recusaram-se, exigiam roupas protetoras. Os soldados trocava as fraldas. Lavavam o chão, trocavam as roupas de cama... Cuidavam de tudo. De onde apareceram os soldados? Não perguntei... Só ele... Ele... E todo dia ouço: morreu, morreu... Morreu Tichiura. Morreu Titenok. Morreu... Como marteladas na cabeça...
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5

Monólogo da esposa de um bombeiro de Chernobyl 2  

Posted by Moriel in ,


Ela me perguntou logo:

  • Minha querida! Querida... Tem filhos?

Como vou confessar?! E já compreendo que devo ocultar a minha gravidez. Não vai deixar! Que bom que sou magrinha, não dá pra perceber nada.

  • Tenho. - Respondo
  • Quantos?

Penso: “Tenho que falar que dois. Se um, não vai deixar do mesmo jeito”.

  • Menino e menina.
  • Se são dois, provavelmente não vai ter mais. Agora ouça: sistema nervoso central totalmente atingido, medula totalmente atingida...

“Tudo bem, então, - penso, - vai ficar um pouco nervoso”.

  • Ouça também: se chorar – vou te mandar embora na hora. Não pode abraçar e beijar. Não chegar perto. Dou meia hora.

Mas eu sabia que já não irei mais embora daqui. Se for, só junto com ele. Jurei!

Entro... Eles estão sentados na cama, jogam baralho e riem.

  • Vássia! - gritam para ele.

Se vira:

  • Irmãos, estou perdido! Até aqui ela me achou!

Tão engraçado, vestindo um pijama tamanho quarenta e oito, e o dele é cinquenta e dois. Mangas curtas, calça curta. Mas desapareceu o inchaço do rosto... Lhes davam algum soro...

  • E porque é que sumiu? - pergunto.

E ele quer me abraçar.

  • Sentado, - não permite o médico. - Nada de abraços aqui.

De algum jeito, transformamos isso em piada. E aí, acorreram todos, e das outras salas também. Todos os nossos. De Pripyat. As vinte e oito pessoas que trouxeram por avião. O que houve? O que está acontecendo lá na cidade? Eu respondo que começou a evacuação, toda a cidade é levada embora por alguns dias. Os rapazes ficam calados, e lá havia duas mulheres, uma delas estava de plantão no dia do acidente, e ela começou a chorar:

  • Meu deus! Meus filhos estão lá. O que houve com eles?

Eu queria ficar a sós com ele, nem que seja por um minutinho. O pessoal sentiu isso, e cada um inventou uma desculpa, e eles saíram para o corredor. Então eu o abracei e beijei. Ele se afastou:

  • Não se sente perto de mim. Pegue uma cadeira.
  • É besteira tudo isso, - dei os ombros. - E você viu onde foi a explosão? O que houve? Vocês foram os primeiros a chegar lá...
  • É provável que seja sabotagem. Alguém fez de propósito. Todos os nossos pensam assim.

Então falavam assim. Pensavam.

No dia seguinte, quando eu vim, eles já estavam um a um, cada um em um quarto separado. Era expressamente proibido sair para o corredor. Comunicar-se. Batiam nas paredes: ponto - traço, ponto – traço... Ponto... Médicos explicavam isso dizendo que cada organismo reage de forma diferente para a radiação, e aquilo que um suporta, o outro não aguentaria. Lá onde eles estavam, até as paredes davam fora de escala. Esquerda, direita, um andar abaixo deles... Removeram todos de lá, não restou um doente... Embaixo deles e em cima deles, ninguém...

Vivi três dias com uns conhecidos de Moscou. Eles me diziam: pegue a panela, pegue o prato, pegue tudo o que precisar, não tenha vergonha. Eram pessoas tão... Tão! Eu fazia caldo de peru, para seis pessoas. Seis nossos rapazes... Bombeiros... Do mesmo turno... Todos eles estavam de plantão naquela noite: Vachiuk, Kibenok, Titenok, Pravik, Tichiura. Comprei para eles todos pasta de dente, escovas, sabonete. Não tinham nada disso no hospital. Comprei toalhas de rosto... Me maravilho agora com os meus conhecidos, eles, é claro, tinham medo, não poderiam não ter medo, já corria toda sorte de boatos, mas eles mesmo assim me ofereciam: pegue tudo o que precisar. Pegue! Como ele está? Como todos eles estão? Eles vão viver? Viver... Encontrei então muitas pessoas boas, não me lembro de todos... O mundo estreitou-se a um único ponto... Ele... Somente ele... Lembro da enfermeira idosa, que me ensinava: “Há doenças que não se curam. É preciso sentar do lado e segurar a mão”.

De manhã cedo vou à feira, de lá para casa dos amigos, preparo o caldo. Ralar tudo, picar, dividir em porções. Alguém pediu: “Traga uma maçã”. Com seis garrafinhas de meio litro... Sempre para seis! Para o hospital... Fico até tarde. E à noite – novamente para o outro lado da cidade. Quanto eu duraria? Mas três dias depois ofereceram para viver no hotel para médicos, no território do próprio hospital. Deus, que felicidade!!!

  • Mas lá não tem cozinha. Como vou fazer comida para eles?
  • Você já não precisa mais cozinhar. Os estômagos deles estão deixando de aceitar comida.

Ele começou a mudar – cada dia, eu já encontrava uma outra pessoa... As queimaduras afloravam... Na boca, na língua, nas bochechas – primeiro apareceram pequenas feridas, depois elas cresceram. A mucosa saía em camadas, camadinhas brancas. Cor do rosto... Cor do corpo... Azul... Vermelho... Cinza e marrom... E ele todo e tão meu, tão amado! É impossível contar isso! É impossível escrever! E até mesmo viver... Salvava que tudo isso acontecia instantaneamente, não tinha tempo para pensar, não tinha tempo para chorar.

Eu o amava! Eu ainda não sabia o quanto o amava! Tínhamos acabado de nos casar... Não havíamos terminado de nos alegrar um com o outro... Andamos pela rua. Levanta-me nos braços e rodopia. E beija, beija. As pessoas passam, todos sorriem.
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5

Monólogo da esposa de um bombeiro de Chernobyl  

Posted by Moriel in ,


Não sei sobre o que contar... Sobre morte ou sobre o amor? Ou é a mesma coisa... Sobre o que?

… Acabamos de nos casar. Ainda andávamos pela rua de mãos dadas, até mesmo se íamos fazer compras. Sempre juntos. Eu dizia para ele: “Eu te amo”. Mas eu não sabia ainda o quanto eu o amava... Não imaginava... Nos vivíamos no albergue do destacamento de bombeiros no qual ele trabalhava. No segundo andar. E mais três famílias de jovens ali, uma cozinha para todos. E embaixo, no primeiro andar, estavam os carros. Carros vermelhos dos bombeiros. Era o trabalho dele. Eu sempre sei: onde ele está, o que há com ele? No meio da noite, ouço um barulho. Gritos. Olhei pela janela. Ele me viu: “Feche a janela e vá dormir. Há um incêndio na usina. Volto logo”.

Não vi a própria explosão. Somente as chamas. Tudo parecia iluminado... Todo o céu... Chamas altas. Fumaça. Calor terrível. E nada dele. Fumaça porque o betume queimava, o telhado da usina estava coberto de betume. Andavam, ele se recordava depois, como sobre breu... Eles partiram sem as roupas de lona, tal como estavam de camisa, partiram assim mesmo. Não os avisaram, os chamaram para um incêndio comum...

Quatro horas... Cinco horas... Seis... As seis nos planejamos ir visitar os pais dele. Plantar batata. Da cidade de Pripyat até o vilarejo de Sperijie, onde viviam os pais dele, eram quarenta quilômetros. Semear, arar... Seus trabalhos favoritos... A mãe se recordava frequentemente como ela e o pai não queriam deixá-lo ir a cidade, até mesmo construíram uma nova casa.

Quatro horas... Cinco horas... Seis... As seis, nos havíamos planejado ir visitar os pais dele. Plantar batata. Da cidade de Pripyat até o vilarejo de Sperijie, onde viviam os pais dele, são quarenta quilômetros. Semear, arar... Trabalhos favoritos dele... A mãe lembrava frequentemente, como ela e o pai não queriam deixá-lo ir a cidade, até mesmo construíram uma nova casa. Convocaram para o exército. Serviu em Moscou como bombeiro, e quando voltou: só bombeiro! Não aceitava outra coisa.

As vezes tenho a impressão de ouvir a voz dele... Vivo... Até mesmo fotos não agem sobre mim de tal forma que a voz. Mas ele nunca me chama. E nos sonhos... Sou eu que o chamo...

Sete horas... As sete me deram o recado de que ele está no hospital. Eu corri, mas o hospital já estava cercado por policiais, não deixavam ninguém passar. Só entravam as ambulâncias. Os policiais gritavam: os carros dão fora de escala, não se aproximem. Não só eu, todas as mulheres vieram, todas cujos maridos nessa noite estavam na usina. Corri em busca de uma amiga, ela era médica no hospital. Agarrei o jaleco dela, quando ela saía do carro: “Deixe entrar!” - “Não posso! Ele está mal. Todos eles estão mal”. Seguro ela: “Só uma olhada”. “Tudo bem, - diz, - então vamos correndo. Quinze ou vinte minutos”. Eu vi ele... Todo inchado... Quase não se vê os olhos... “Precisa-se de lite. Muito leite! - disse a amiga. - Para que eles bebam pelo menos uns três litros”. - “Mas ele não bebe leite”. - “Agora vai beber”. Muitos médicos, enfermeiras, especialmente o pessoal da limpeza desse hospital adoecerão dentro de um tempo. Morrerão. Mas ninguém sabia disso então...

As dez da manhã, morreu o operador Chichenok... Morreu primeiro... No primeiro dia... Nos soubemos que sob os escombros ficou um segundo – Valera Khodemtchuk. Acabaram não o tirando de lá. Cimentaram. Mas nos ainda não sabíamos que eles todos são os primeiros.

Pergunto: “Vássenka, o que fazer?” - “Vá embora daqui! Vá! Vai ter um bebê”. Eu, grávida. Mas como vou deixá-lo? Pede: “Vá embora! Salve a criança!” - “Primeiro, preciso te trazer leite, e depois decidiremos”.

Acorre a minha amiga Tanya Kibenok... O marido dela está na mesma sala. O pai dela está com ela, está de carro. Entramos e vamos até o vilarejo mais próximo atrás de leite, uns três quilômetros além da cidade... Compramos muitas garrafas de três litros com leite... Seis – para todos... Mas eles vomitaram terrivelmente por causa do leite... Perdiam a consciência o tempo todo, davam-lhes soro. Os médicos por alguma razão repetiam que eles se envenenaram com gases, ninguém falava sobre radiação. E a cidade encheu-se que veículos militares, fecharam todas as estradas. Soldados por todo lugar. Pararam de circular trens. Lavavam as ruas com um pó branco... Eu me preocupava, como é que irei à vila amanhã para comprar leite fresco para ele? Ninguém falava sobre radiação... Só os militares andavam de máscaras... Os habitantes levavam pão das lojas, pacotes abertos com bombons. Os bolos estavam sobre as bandejas... Vida normal. Só... Lavavam ruas com um pó...

À noite, não deixaram entrar no hospital... Um mar de pessoas em volta... Estava na frente da janela dele, ele chegou e me gritou alguma coisa. Tão desesperadamente! Na multidão, alguém ouviu: os levam a Moscou à noite. As mulheres juntaram-se num grupo só. Decidimos: vamos com eles. Deixem-nos ver os nossos maridos! Não têm direito! Debatíamos, arranhávamos. Soldados, já havia uma fileira dupla de soldados, nos empurravam. Então saiu um médico e confirmou que eles irão de avião a Moscou, mas nos devemos trazer roupas para eles, - aquelas que eles usavam na estação queimaram-se. Os ônibus já não circulavam, e nos atravessamos a cidade correndo. Viemos com pacotes, e o avião já foi. Nos enganaram de propósito... Para que não gritássemos, não chorássemos...

Noite... De um lado da rua os ônibus, centenas de ônibus (já preparavam a cidade para evacuação), e do outro, centenas de carros de bombeiros. Trouxeram de todo canto. A rua toda coberta de espuma branca... Nos andamos por ela... Xingamos e choramos...

Pelo rádio, informam que a cidade possivelmente será evacuada por três ou cinco dias, levem roupas quentes e trajes esportivos, vamos viver nas florestas. Em barracas. As pessoas até se alegraram: natureza! Vamos passar lá o Primeiro de Maio. Diferente. Preparavam churrasco para viagem, compravam vinho. Levavam junto violões, toca-fitas. Queridas festas de maio! Choravam somente aquelas cujos maridos estavam mal.

Não me lembro da viagem... Como se tivesse despertado quando vi a mãe dele: “Mãe, Vássia está em Moscou! Levaram num avião especial!” Mas nos terminamos de plantar a horta, batata, repolho (e uma semana depois, a vila será evacuada!) Quem sabia? Quem sabia disso então? No final do dia, comecei a vomitar. Eu, grávida de seis meses. Estou tão mal... À noite, sonho que ele me chama, enquanto estava vivo, sempre me chamava enquanto dormia: “Liússia! Liússenka!” E quando morreu, nunca me chamou. Nem uma vez... Acordo de manhã com a ideia de ir sozinha a Moscou... “Aonde vai assim?” - chora a mãe. Arrumaram também o pai para a viagem: “Vai te levar”. Ele pegou todo o dinheiro que eles tinham. Todo o dinheiro.

Não me lembro da viagem... A viagem novamente desapareceu da memória... Em Moscou perguntamos para o primeiro policial, em que hospital estão os bombeiros de Chernobyl, e ele nos disse, eu até fiquei surpresa, porque nos assustavam: segredo de estado, tudo secreto.

Sexto hospital, na “Shiúkinskaia”...

Nesse hospital, hospital radiológico especial, não deixavam entrar sem permissão. Dei dinheiro para a porteira, e ela disse: “Vá”. Disse qual andar. Pedi a mais alguém, implorei... E eis que estou na sala da responsável pelo setor radiológico, Angelina Vassílievna Guskova. Então eu não sabia ainda como ela se chamava, não me lembrava de nada. Só sabia que deveria vê-lo... Encontrar...
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5

Hiroshige: Fox Fires on New Year's Eve  

Posted by Moriel in , ,

Blusas  

Posted by Moriel in , , ,

Bastante popular no início do século passado, a combinação de blusa e saia comprida. Simples e elegante, favorito das Gibson Girls. Sem contar que as blusas Edwardianas são, por si, um poema.




















Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...