“E ela mesma arruinou a própria saúde: quando queria ir a um baile, tomava um limão com sal, para interromper as regras. As moças tinham uma superstição boba a esse respeito. Imaginavam que um homem tocará a sua mão, ou mesmo só olhará – e logo compreenderá tudo sobre a sua indisposição”.Katherine Anne Porter, “Old Mortality”
Mary Cassat, Young Lady Reading
Vou adiantar uma coisa, a senhorita acima vai ter cólicas fortíssimas, a menos que alguém arranque esse livro dela o mais rápido possível.
São poucos os tabus tão fortes e universais quanto os relacionados à menstruação. Até mesmo Marques de Sade, em seus livros, não demonstra muito interesse no assunto. Se bem que, convenhamos, cachorros decapitados, fezes e homens castrados são assuntos bem mais divertidos. Não é de se surpreender que, durante a era vitoriana, muito pouco espaço era reservado à discussão deste assunto.
É difícil imaginar quão pouco os médicos e os cientistas, sem falar nos meros mortais, sabiam sobre o corpo humano no século 19. Na primeira metade do século, acreditava-se, por exemplo, que os óvulos desciam dos ovários somente como consequência do ato sexual.
As teorias cientificas eram fortemente influenciadas pelas doutrinas éticas e sociais prevalentes acerca da inferioridade da mulher: a ciência refletia, em vez de determinar, as questões morais da época...
As mulheres da era vitoriana tinham muitas ocupações. As mais pobres, frequentemente, carregavam nas costas todos os trabalhos da casa: cozinhar, lavar roupa, limpar a casa, cuidar dos filhos, aturar o mau humor do marido... Uma senhora mais abastada deveria embelezar a sala de visitas e cumprir as suas obrigações sociais – também não era a ocupação das mais simples, agradar pessoas que lhe são profundamente desagradáveis, mas de quem depende toda a carreira do seu marido. O último, mas não o menos importante, tanto essas quanto aquelas deveriam parir filhos.
Apesar de todos estes encargos, as mulheres eram consideradas o sexo frágil, propenso a toda sorte de moléstias. O útero era tido como a fonte principal dessas e, obviamente, estava cercado de inúmeros mitos. Muitos destes mitos diziam respeito à menstruação – misterioso mal sobre o qual meditavam inúmeros médicos e críticos sociais. A opinião popular dizia que, durante a menstruação, a mulher está em perigo:
No decorrer deste período, a mulher não está se sentindo bem ou não está em ordem. Várias sensações desagradáveis estão associadas a ela [menstruação]; mas quando é acompanhada de dor intensa, o que não é raro, passa a ser uma doença, e a mulher não pode conceber, enquanto não se curar. Durante as assim chamadas “regras” deve-se evitar comida difícil de digerir, danças em salas quente, contatos repentino com frio ou calor, bem como a excitação emocional.Charles Knowlton, 1832
De acordo com os médicos e outros indivíduos mais ou menos inteligentes e bem intencionados, nada piorava o estado da mulher durante os incômodos mensais tanto quanto atividade intelectual. Não podemos deixar de notar que também em outros períodos esta atividade não era bem vista, mas era particularmente prejudicial durante a menstruação. Os assim chamados especialistas avaliavam de várias formas os danos da leitura. Por exemplo, algumas figuras proeminentes da sociedade lamentavam somente a leitura de romances. Em 1870, Orson Fowler, frenólogo americano, atacou estes rabiscos tão nocivos:
A leitura que estimula emoções e inflama as paixões pode provocar ou aumentar o congestionamento do útero, o que por sua vez pode levar a várias moléstias, incluindo (…) menstruação dolorosa.
O refrão para todas essas sentenças era: “E ela enlouqueceu”. Conhecendo o desenvolvimento da psiquiatria daqueles tempos, podemos afirmar com toda a convicção que ninguém queria enlouquecer naquela época. Nada de bom esperava o pobre coitado. Ainda assim, não é muito crível que uma jovem deixaria de lado, digamos o “Morro dos Ventos Uivantes” que não terminou de ler, impressionada pelas admoestações dos moralistas.
Se bem que outros iam mais longe ainda, condenando não somente as histórias de amor, mas também a educação superior para mulheres em geral. Nesta área, os americanos se destacaram bastante. Assim, em 1873, o doutor Edward Clarke de Harvard publicou um livro chamado “Sexo na Educação”. Este trabalho comunicava que a educação superior mina a capacidade reprodutiva das mulheres, obrigando-as a trabalhar num momento crítico do desenvolvimento delas. Enquanto as feministas americanas escreviam contra-argumentos, vários ativistas do outro lado do oceano armaram-se com o livro de Clarke. Pois ele provava, sob perspectiva médica, que proibir o acesso das mulheres à educação superior é uma ação extremamente benigna. Pois a própria Natureza criou as mulheres para uma função diferente daquela dos homens, e esforços intelectuais excessivos durante a menstruação podem levar a uma série de doenças. Obviamente, também as feministas inglesas ficaram descontentes com essa afirmação.
O processo de crescimento, passagem do mundo da infância para o mundo cheio de tentações dos adultos era assustador. E, provavelmente, mais assustador para os médicos que para as suas pacientes. Inúmeros livros sobre fisiologia e higiene, dedicados às adolescentes, criavam a figura de uma criança frágil, terrivelmente assustada com as mudanças que ocorrem com o corpo dela. Essa menina normalmente suspirava, chorava sem motivo e era muito tímida.
E provavelmente mais assustador do que para os médicos para seus pacientes. Muitos livros sobre a fisiologia e higiene, em adolescentes, uma imagem de uma criança frágil, com medo de mudanças ocorrendo a morte de seu corpo. Esta menina é geralmente suspirou, deixou cair as lágrimas involuntárias e geralmente tímido de pessoas.
E provavelmente mais assustador do que para os médicos para seus pacientes. Muitos livros sobre a fisiologia e higiene, em adolescentes, uma imagem de uma criança frágil, com medo de mudanças ocorrendo a morte de seu corpo. Esta menina é geralmente suspirou, deixou cair as lágrimas involuntárias e geralmente tímido de pessoas.
Obviamente, ninguém poderia dar explicações sobre uma coisa tão vergonhosa quanto menstruação a essa inocente criatura. As meninas muitas vezes não sabiam que medidas higiênicas deveriam tomar, e achavam que o que estava acontecendo com elas era algo ruim.
O sentimento de culpa era bastante difundido entre as mulheres da era vitoriana. A menstruação era considerada uma doença de modo geral, e uma menstruação acompanhada de forte desconforto, uma doença particularmente vil e antinatural. A opinião popular sobre o assunto preferia a versão de que “é tudo culpa dela mesma”.
O sentimento de culpa era bastante difundido entre as mulheres da era vitoriana. A menstruação era considerada uma doença de modo geral, e uma menstruação acompanhada de forte desconforto, uma doença particularmente vil e antinatural. A opinião popular sobre o assunto preferia a versão de que “é tudo culpa dela mesma”.
Se alguma etapa da menstruação é acompanhada de dor, significa que há algo errado ou com a roupa, ou com a dieta, ou com o comportamento da mulher.
E como era culpa dela, a mulher que havia, por exemplo, lido um romance de arrancar lágrimas antes de dormir, não tinha direito de reclamar, e muito menos incomodar aqueles que a cercavam com os próprios problemas. Em 1885, a americana Almira McDonald escreveu no diário dela:
19 de abril – Tenho regras, dor forte o dia todo – que pena que me sinto tão mal, isso pode chatear Angus (marido dela).
20 de abril – Às 9:40, Angus pegou o trem para Chicago. Me sinto melhor. É tão ruim que ele vai embora quando me sinto mal, mas é preciso esperar o melhor.
Bibliografia:
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at quinta-feira, setembro 23, 2010
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