O Incômodo Mensal - Parte II  

Posted by Moriel in , ,

Os documentos daquela época contam um pouco sobre a higiene durante a menstruação. A maior parte das informações foi retirada de fontes americanas, mas é muito provável que os mesmos meios fossem usados na Europa.

Por exemplo, são descritos absorventes de pano, um pouco menores que uma fralda. Os absorventes eram lavados e reutilizados. Alias, trabalho leve em casa era considerado a melhor forma de regular a menstruação e diminuir a dor. Por outro lado, a leitura e qualquer atividade intelectual consumiam energia demais e diminuíam o fluxo de sangue na área genital, com isso causando danos irreparáveis para o organismo da mulher.

Além disso, existiam fórmulas variadas, populares ou patenteadas, para interromper o corrimento de sangue. Um manual de Marion Harland, publicado em 1882, recomenda alguns remédios caseiros para os desconfortos da menstruação, como chá quente de gengibre para as cólicas. Um exemplo mais cabeludo, o bálsamo do doutor Chase:

Pegue 2,5 drs (1 dracma - 3,69 gramas) de ácido sulfúrico, adicione lentamente uma dracma de terebentina, mexendo constantemente com o pilão, e um dracma de álcool. Mexa até que a mistura deixe de fumegar, em seguida coloque-a em um frasco de vidro fechado. A mistura deve ser transparente, vermelho como sangue escuro. Se for feita a partir de materiais de baixa qualidade, será uma cor pálida, suja e será inapropriada para uso. Dose - adicione 40 gotas em um copo de chá, esfregue com uma colher de chá de açúcar mascavo, misture com água até que a xícara esteja quase cheia, e beba imediatamente. Repita a cada hora, durante 3-4 horas, mas o uso deve ser interrompido assim que não apareça mais sangue fresco. A droga não estraga com o passar do tempo, mas uma crosta forma-se na superfície, e deve ser quebrada, usando-se o remédio embaixo dela.

Honestamente, prefiro limão com sal. É especialmente encantadora a passagem “até que deixe de fumegar”, e creio que uma mulher deve ser muito corajosa para consumir esta substância.

O livro do doutor Chase tinha muitas outras receitas de como envenenar-se de forma mais eficiente.

Voltando aos absorventes, a questão que não quer calar é como as pobres mulheres vitorianas se viravam?

Os tampões eram utilizados ainda pelas egípcias, muitos anos antes de Cristo. Eram confeccionados de papiro, e provavelmente eram bem desconfortáveis, já que não é algo exatamente macio. Na Grécia Antiga, eram usados palitos de madeira leve enroladas em linho, no Japão – papel, na África, grama. Ainda assim, pelo que se sabe, tampões não eram utilizados no século 19.

Mas o que elas faziam, então?

Dependia, o mais provável, da posição social da mulher. Algumas não usavam absolutamente nada, e deixavam o sangue escorrer pelas saias, que elas também não trocavam durante vários dias (nem todas tinham saias o suficiente para uma menstruação prolongada). Muitas vezes, nas fábricas onde as mulheres trabalhavam, o chão era forrado de feno, para que aquele absorvesse as secreções. E não era preciso ser um detetive experiente para descobrir que uma mulher menstruada passou pelo quarto. Resumindo, eca. Não eram somente as mais simples que preferiam o princípio de “ deixe escorrer, não incomoda ninguém”, mas também mulheres da classe média. Muitas achavam que os absorventes congestionam o fluxo de sangue, o que é extremamente ruim. Algumas mulheres costuravam roupas íntimas escuras para esses dias.

Mas nem todas poderiam se permitir tamanha liberalidade com a menstruação. Em particular, as atrizes – podemos somente imaginar o que o público faria se ouvisse de Adelina Patti: “Não, hoje não vou cantar para vocês, nem amanhã, mas vou ficar a semana inteira em casa e tomar chá de ácido sulfúrico”. Se você é uma atriz, querendo ou não deve aparecer no palco. Não é de se surpreender que as primeiras propagandas de absorventes eram direcionadas justamente às atrizes.

Também é difícil imaginar uma senhorita aristocrática que em plena época de bailes se trancaria em casa, com saias escuras, enquanto as amigas dela fisgam os homens ricos e nobres.

Assim, os elementos mais progressivos da sociedade utilizavam absorventes.

No século 19, na Europa, os absorventes eram utilizados tanto pelas ricas, quanto pelas pobres. No caso desas últimas, eras somente uns panos velhos. Aquelas que podiam permitir-se isso, faziam uso de algo mais fino. Normalmente, uma mulher mais ou menos abastada tinha vários absorventes: deixava-os de molho durante a noite, e lavava um dia depois, e depois penduravam para secar. Quando as mulheres viajavam, elas ou estocavam os absorventes sujos para lavar em casa mais tarde, ou os queimavam. Alias, vendiam-se fogareiros portáteis especialmente para este fim. Os absorventes poderiam também ser tricotados, e a produção deles certamente era uma ocupação prazerosa para as horas de lazer.

No final do século 19, surgiram os absorventes descartáveis, porém a sua produção em massa enfrentou o problema de propaganda insuficiente. O que era de se esperar, já que a menstruação era um assunto mais do que delicado.

Os absorventes descartáveis eram feitos de pano, recheado de algodão, serragem ou musgo. Alguns tinham até uma camada de borracha para evitar vazamentos. Excelente, mas como manter este absorvente no devido lugar? A “lingerie” das mulheres vitorianas não facilitava muito. Assim, existiam aventais protetores e cintas-ligas especiais. O absorvente poderia se prender ao cinto com ganchinhos, e havia mesmo uma espécie de suspensórios... Era recomendado trocar o absorvente umas duas vezes por dia, e queimar os usados, certamente para evitar que alguém os veja por acidente.

Algumas ilustrações...






This entry was posted at quarta-feira, setembro 29, 2010 and is filed under , , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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