Rudolf: Casamento  

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As aulas de Rudolf não se limitavam à história. Em particular, é certo que, em 27 de dezembro de 1871, Franz Joseph deu-lhe um presente original. O menino de treze anos, acompanhado de Latour e dois médicos, visitou um sítio, onde lhe contaram tudo sobre os “fatos da vida”, isto é, sobre passarinhos e abelhinhas. E não só contaram, como também assinaram um documento, tudo bonitinho.


Provavelmente, a primeira visita a um bordel também foi organizada com permissão paterna. Por um lado, era totalmente de acordo com o espírito da época, por outro lado, era totalmente de acordo com o espírito de Franz Joseph ficar de olho no herdeiro. Durante toda a vida, o príncipe aprontou bastante, e o seu rosto era bem conhecido em muitas instituições do tipo em Viena. Contudo, sendo um rapaz esperto, Rudolf não dava motivos para suspeita aos pais, e a sua fama de namoradeiro e pegador não chegava ao palácio imperial. Se bem que Franz Joseph não tinha moral para implicar com ele, já que andava aprontando também, e Elisabeth não queria nem saber.

 
Viena estava cheia de beldades que jamais poderiam dizer não ao príncipe herdeiro. Nos cafés, discutia-se freqüentemente os amores do príncipe, e apostava-se o quanto duraria o mais novo romance. Até mesmo em um dos seus testamentos, escrito em 1879, Rudolf mandava “um beijo de despedida para todas as belas damas de Viena, que ele amava tanto”. Corriam também boatos de que o príncipe tinha um “Registro de Conquistas”, onde anotava os nomes das moças que perderam a virgindade com ele. As senhoritas da lista recebiam uma cigarreira de prata, com uma gravura que dependia do nível social da agraciada. 

 Mizzi Kaspar

Apesar das ligações caóticas, Rudolf era capaz também de manter relacionamentos estáveis. Durante nove anos, uma mulher fez parte da vida dele, deu-lhe a sensação de conforto e calor humano. Chamava-se Mizzi Kaspar. Era a melhor amiga de Rudolf, que o aceitava tal como ele era, e se encontrava com ele por amor, e não pelo seu título ou por dinheiro. É interessante que depois da morte dele, Mizzi destruiu todas as suas cartas e conservou-se calada, mesmo podendo escrever memórias e as vender por um bom preço. Por outro lado, diz-se que Mizzi Kaspar era uma espiã, que foi especialmente designada para ficar de olho em Rudolf. O príncipe estava sob constante vigilância policial – fato – pois o imperador estava curioso para saber o que anda fazendo o seu liberal herdeiro. Também se sabe ao certo que Mizzi denunciou o intento de Rudolf ao chefe da polícia, mas são altas as chances de que ela simplesmente esperava que medidas fossem tomadas.

 
Rudolf conheceu Mizzi em um bordel, mas em pouco tempo seu relacionamento passou de “dinheiro-mercadoria” a um nível mais alto. Mizzi Kaspar não era culta, nobre ou mesmo bonita. Mas ela era bondosa, não exigia nada, não reclamava, em outras palavras, era bom passar o tempo com ela. Ela dava ao príncipe aquilo que lhe foi negado primeiro pela mãe, depois pela esposa: conforto, quando ninguém pega no seu pé e não tenta inflar o próprio ego a sua custa. Mizzi muitas vezes viajou junto com ele, e provavelmente estava ao seu lado quando ele foi procurar por uma noiva.

 Maria Antonia

Além das aventuras amorosas, o príncipe herdeiro deveria também se preocupar com a dinastia. Desde a maioridade, ele começou a procurar aquela a quem pudesse ligar-se por laços indissolúveis. O primeiro amor de Rudolf era a Maria Antônia, filha do duque Ferdinand de Toscana. Mas Franz Joseph não a considerou um partido adequado para o filho. Para começar, a saúde dela deixava a desejar. Pouco mais tarde, descobriu-se que a jovem tinha tuberculose, o que era uma sentença de morte na época. A cada dia, ela ficava mais magra, mais pálida e mais bela. Desesperada, ela tornou-se freira, mas esta medida extrema não a ajudou, e ela morreu em 1883. O coração de Rudolf estava partido pela enésima vez. A imprensa fez a festa, divulgando boatos de que os dois casaram-se secretamente, e até mesmo tiveram um filho.

 Stephanie

A segunda tentativa foi mais bem sucedida, dependendo do que chamarmos de sucesso. Herdeiro de uma dinastia católica – apesar de não estar nem aí para religião – Rudolf deveria se casar com uma princesa católica. E estas eram uma mercadoria bem rara. Finalmente, em 1880, ao visitar o rei da Bélgica Leopold II, Rudolf escolheu a sua filha, Stephanie. E não só escolheu, como conseguiu apaixonar-se por ela, pelo menos por um certo tempo. “Eu achei o que procurava. Stephanie é bela, inteligente, muito bem educada, e será uma boa filha e súdita para o Imperador. Estou muito feliz e contente”. Na verdade, Stephanie era uma mocinha bastante burra e superficial, com tendência para choramingar o tempo todo. Elisabeth, é claro, estava horrorizada, pois não aprovava a escolha do filho (tendo aprendido com a própria sogra, chamava a futura nora de “camelo com tranças”). Mas não comunicou os seus receios ao filho. Talvez não queria imitar Sophie, ou simplesmente mostrou, mais uma vez, o quanto se importa com ele.

 
O casamento foi adiado várias vezes, pois a noiva era ainda muito nova (acho que estavam esperando que ela começasse a menstruar), e quanto mais durava a espera, mais claramente Rudolf percebia aonde havia se metido. Pelo menos, Marie Festetics em suas memórias observou que o príncipe herdeiro estava muito abatido antes do casamento. A própria Stephanie também não estava se babando de alegria. Apesar de a maior parte das mulheres considerar Rudolf atraente, a noiva o caracterizou bem friamente: “não se pode chamá-lo de bonito, mas não posso afirmar que a aparência dele me desagrada”. Além disso, a mãe de Stephanie esbarrou-se em Mizzi, que Rudolf trouxe consigo para a Bélgica. A própria rainha decidiu não estragar o humor da filha, mas nem todos tinham tanto tato.

Stephanie e Rudolf

Depois do casamento, os pombinhos começaram a divertir-se. A princesa deixou memórias, descrevendo o quão tudo era ruim, e como ninguém dava valor a ela. Alias, descreve também a porcaria que Hofburg, a residência da família imperial em Viena, era. Nem mesmo havia banheiros. Stephanie era obrigada a tomar banho de canequinha em uma banheira de borracha, e a água suja e os penicos eram levados pelos corredores, na frente de todo mundo. A cozinha ficava no mesmo andar que os quartos, por isso tudo estava impregnado de cheiro de comida, enquanto ela odiava a cozinha austríaca. Assim, sua chatice era perfeitamente justificada, qualquer um vai fazer mimimi morando num barraco de favela desses. Não poupava também o marido, descrevendo ele como um maníaco ciumento, que nem ao menos deixava ela escrever para os pais. Lendo as cartas dele para ela, por outro lado, temos a imagem de um marido carinhoso, mas muito ocupado. Um belo dia, ela corajosamente foi com o marido a um café, tentando entender o seu amor pela vida boêmia. “Era uma idéia picante”, escreve Stephanie, mas quando a coitada sentou numa mesa imunda, respirou a fumaça de cigarro e ouviu canções indecentes, a coisa deixou de ser picante. 


Uma outra fonte de tensão entre os dois era a ausência de um herdeiro. Em 1883, Stephanie teve uma filha, batizada de Elisabeth (Erzi), em homenagem à avó e a Santa Elisabeth da Hungria. O nascimento dela trouxe pouca alegria para Stephanie, já que ela e Rudolf queriam um menino, e até mesmo escolheram o nome, Wenzel. Mais tarde, não rolou porque Rudolf seguiu os passos do pai, e infectou a esposa com gonorréia. Pelo menos, de acordo com Stephanie. Ela culpava o marido pela própria infertilidade, o que também não favorecia a harmonia familiar.


Não posso deixar de mencionar que Rudolf não era um playboy que não pensa em nada além de saias. Era um dos homens mais brilhantes do seu tempo, e teria feito muitas coisas se o pai não o empurrasse para longe do palco político. Os patriotas austríacos e húngaros depositavam nele grandes esperanças. Desde a infância, Rudolf destacava-se por suas capacidades analíticas. Conhecedor da conjetura política, publicou vários artigos em jornais, sugerindo reformas, defendendo os interesses da Áustria nos Bálcãs. Apesar do crescente anti-semitismo, era amigo de vários judeus. Também defendia os húngaros, a ponto de supor-se que fazia parte de uma conspiração húngara para depor o imperador.

This entry was posted at sábado, novembro 19, 2011 and is filed under , , , , , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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