Rudolf: Infância  

Posted by Moriel in , , , , ,


Vamos deixar Elisabeth de lado e falar um pouco sobre seus filhos. Como já foi dito, Sophie se dedicava com muito empenho a roubar os filhos da nora, tal como as fadas dos contos ingleses. Não é de se surpreender que, quando nasceu o herdeiro do trono austríaco, Sophie levou ele também. Elisabeth quase não tinha tempo para ver o pequeno, o que sem dúvida a fazia sofrer terrivelmente. Além disso, ela tinha muito leite, mas obviamente não amamentava o filho, afinal isso não era coisa para uma imperatriz fazer. 

Por causa das constantes brigas entre a mãe e a avo, Rudolf era uma criança nervosa. Quando precisava, poderia ser encantador ao extremo, ou muito teimoso. Às vezes, tinha acessos histéricos, e somente a sua babá conseguia acalmá-lo. Além disso, tinha saúde fraca.

 
Quando o menino tinha cinco anos, ele subiu numa árvore, mas caiu, bateu a cabeça numa pedra e ficou inconsciente durante várias horas. Depois, sofreu de fortes enxaquecas até o fim da vida, por causa deste incidente. Elisabeth foi informada sobre o ocorrido somente quando a vida do herdeiro já estava fora de perigo.

No mesmo ano, ele teve tifo, e a mãe novamente não estava ao lado do seu leito: ela estava visitando os parentes na Baviera. A imperatriz importou-se com o bem estar de Rudolf somente uma vez, quando Sophie pirou completamente e encarregou o conde Leopold Gondrecourt de ser o tutor do menino. A avó queria transformar o neto em um verdadeiro soldado. Ela deve ter se esquecido completamente sobre bullying e assédio moral no exército. O novo tutor era um legítimo filho da mãe. Não se envergonhava de espancar os subalternos, e um dia açoitou pessoalmente o capelão de um destacamento (só se salvou do tribunal devido a seus contatos). Gondrecourt agradava a Sophie pelo seu conservadorismo. Toda manhã, ele ia à missa com uma Bíblia e o terço. Teoricamente. Diziam as más línguas que a bíblia era na verdade uma cigarreira, e em vez de ir a igreja, ele visitava a amante. 

 
Este simpático senhor obrigava o pequeno Rudolf a tomar duchas geladas, e entrava atirando no quarto do menino no meio da noite (depois desses exercícios, Rudolf continuou fazendo xixi na cama por um bom tempo). Numa bela manhã de inverno, a Imperatriz foi despertada por uma algazarra no pátio. Pela janela, ela viu que Gondrecourt estava ensinando Rudolf, de seis anos, a marchar, na neve até os joelhos, a luz de uma lanterna. Logo depois, o menino adoeceu, e os médicos concordaram que os seus nervos estavam muito abalados. Mal ele melhorou, o tutor psicótico lhe deu mais uma lição: levou o menino ao zoológico, e lá empurrou para dentro de uma jaula, trancou a portinhola e gritou que um porco selvagem em breve apareceria ali. Rudolf, obviamente, começou a chorar de medo, enquanto Gondrecourt com um auxiliar continuaram assustando-o. A paciência de Elisabeth finalmente esgotou-se.

Ela declarou: “Ou Gondrecourt, ou eu!”, e exigiu que todas as decisões referentes aos filhos fossem tomadas por ela, a partir de agora. Com certa hesitação, o imperador concordou. Numa situação dessas, ele concordaria com qualquer coisa, não muito tempo antes disso, ele contaminou a mulher com gonorréia. Elisabeth passou o resto da vida usando isso para chantagear o marido, que morria de vergonha. Assim, graças à gonorréia, Rudolf livrou-se do tutor sádico. Mas o trauma ficou com ele. E também a sua solidão continuou: a brilhante Elisabeth tocou de leve a sua vida e partiu para cuidar dos próprios negócios. O menino sentia falta do amor materno. Rudolf adulto irá buscar amor onde puder.

 
Elisabeth designou um novo tutor, o coronel Joseph Latour, um homem inteligente, bondoso e tolerante, que tratava o jovem príncipe com compreensão. Rudolf compartilhava com ele mesmo as mais liberais das suas idéias. O estado emocional do menino deixava Latour muito preocupado. Em primeiro lugar, Rudolf era indiferente à religião. O herdeiro de uma dinastia católica crescia agnóstico, e mais tarde as suas piadas sobre a igreja deixavam os parentes atemorizados. Depois, interessava-se excessivamente pela morte. O menino gostava de interrogar as pessoas acerca de quem havia morrido, e como. Aos nove anos, ele escreveu o primeiro testamento e Latour, apesar de estar incomodado com o ato, simplesmente corrigiu os erros gramaticais e obrigou o aluno a passar o testamento a limpo (se passar a limpo umas 50 vezes, certamente vai perder toda a graça).

 Desenho de Rudolf

Tal como antes o seu pai, Rudolf crescia sobrecarregado de aulas. Mas teve sorte com os professores. Assim, aprendia a história da Hungria com o padre Jacint Janos Ronay, que participou ativamente da ressurreição de 1848, sendo obrigado a emigrar para a Inglaterra quando esta acabou em nada. Foi convidado a voltar, para trabalhar pelo bem da dinastia, e aceitou este cargo com entusiasmo. Graças a suas aulas, a Hungria ganhou mais um defensor: o príncipe Rudolf estava sempre pronto para defender os interesses húngaros.

 Rudolf e Gisella

Não podemos deixar de lembrar de Marie Valerie, queridinha de Sisi, que a mãe encheu de coisas húngaras a ponto de fazê-la odiar em segredo o pais, e falar com o pai em alemão às escondidas, quando Elisabeth tinha o capricho de se recusar a compreender qualquer língua além do húngaro. Rudolf, por sinal, não gostava da irmã mais nova, e a chamava de “a única”. Quanto a Gisella, a mais velha, os dois eram muito próximos, e continuaram sendo amigos durante toda a vida.


Fora isso, o menino crescia um perfeito liberal, e alguns comentários no seu diário fariam o papai Franz Joseph cair morto, e a vovó Sophie revirar no caixão. O menino maravilhava-se com a Revolução Francesa, xingava a igreja e tirava sarro da monarquia.

 Com o pai, caçando

Além de política, Rudolf adorava a caça. Já aos 12 anos, era um hábil caçador e manejava bem a espingarda. Alias, houve também o gato. Já aos 20, Rudolf um belo dia voltou da caça com um gato selvagem dentro de uma gaiola. O pobre bichinho foi solto, e o príncipe o matou com um tiro certeiro na frente de toda a corte. Estava contente, enquanto Franz Joseph e Elisabeth ficaram horrorizados. E ao visitar Berlin em 1878, Rudolf matou um veado branco. Segundo uma superstição dos caçadores locais, isso significava que o caçador não morrerá de doença ou velhice, mas será morto por alguém. Mas, obviamente, ninguém iria contar essas historinhas ao príncipe herdeiro da Áustria.

This entry was posted at sexta-feira, novembro 18, 2011 and is filed under , , , , , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

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