A vida de
Rudolf não era um mar de rosas. Mas no final da década de 80, a coisa começou a
ficar realmente feia. Sua saúde deteriorava. Em 1886, Rudolf contraiu gonorréia
e passou a sofrer de dores nas juntas. As enxaquecas que ele tinha desde
criança atormentavam-no cada vez mais. Além disso tudo, sua visão começou a
piorar. Para controlar a dor, o príncipe consumia morfina (o que ele mesmo
menciona em suas cartas). Antes sempre correto com seus subordinados, Rudolf
começou a perder o controle, e surtos de raiva passaram ser a sua marca
registrada. Alem disso, devido a problemas de saúde, tornava-se cada vez mais
difícil dedicar-se ao seu passatempo favorito – a caça. No inverno de 1888
ocorreu um incidente que somente confirmou este fato: Rudolf quase matou o
próprio pai. A caçada estava quase acabando, quando o príncipe viu um veado e
atirou, mas calculou mal a distância, e teria acertado o imperador se um criado
não tivesse colocado o braço na sua frente, recebendo o tiro. Desde então,
Franz Joseph passou a evitar o filho, vai saber o que pode vir na cabeça de um
sujeito desses.
Rudolf em roupas de caça
Este não
era o único conflito entre o imperador e seu herdeiro. Franz Joseph mantinha o
filho afastado do governo, apesar do fato de que Rudolf se interessava por
política e tinha interesse e capacidade para defender os interesses do Estado.
Finalmente – afinal, Rudolf já não era mais um menino – o imperador nomeou-o
inspetor geral da infantaria. Apesar de ser um cargo respeitado e de
responsabilidade, Franz Joseph continuava não levando o filho a sério. Não o
convidavam para conselhos e reuniões importantes. Mas o maior problema foi a
visita do kaiser Wilhelm no outono de 1888. As relações entre os dois eram,
para não dizer mais, bastante frias. Wilhelm não suportava Rudolf por causa do
ceticismo deste em relação a igreja e o considerava efeminado e sem princípios,
e Rudolf ficava enjoado só de pensar no primo idiota. Aos treze anos, ele até
mesmo escreveu um poema sobre quão bom que seria se Deus punisse todos os
Hohenzollerns, que já encheram o saco de todo mundo. Ao chegar em Viena,
Wilhelm fez o possível para mostrar que Rudolf era um completo idiota, incapaz
de comandar um exército. Algo como quando os seus mais queridos parentes baixam
na sua casa e ficam andando pra lá e pra cá, botando defeito em tudo, desde o
sofá novo até o comportamento do seu hamster. Mas Wilhelm não parou por aí – ao
voltar para casa, escreveu para Franz Joseph uma extensa carta, na qual exigia
que Rudolf fosse afastado do seu cargo, para manter a aliança entre a Áustria e
a Alemanha. Apesar de ter sido educado para obedecer ao imperador, dessa vez o
príncipe mandou o pai para um certo lugar e disse que permanecerá no cargo.
Durante a briga, Elisabeth estava na Grécia e, como sempre, importava-se um
pouco menos do que nada com o que acontecia em casa.
Rudolf e Wilhelm com as respectivas esposas
O herdeiro
cosmopolita e liberal tinha fãs dentro da Áustria também. O arquiduque
Albrecht, um dos homens mais poderosos do estado e inspetor geral do exército
desde 1869, não suportava Rudolf. Primeiro ministro, Taaffe, também se opunha a
suas idéias liberais. Além disso, Rudolf continuava sendo vigiado por ordens do
pai. Percebia muitas vezes, e tentava fugir desta vigilância, por exemplo
usando códigos secretos.
Tanto a
vida política, quanto a familiar de Rudolf estavam em crise. Mais um episodio
desagradável contribuiu com lenha para o fogo: no final de outono de 1887, os
arquiduques Franz Ferdinand (o da Primeira Guerra Mundial) e Otto, com seus
homens, cavalgavam num dos subúrbios de Viena. Depararam com uma procissão
fúnebre, e não pensaram em nada melhor que esporear os cavalos e pular por cima
do caixão. Rudolf estava com eles – pelo menos assim diziam as más línguas. E
um dos membros do parlamento levantou uma discussão sobre o incidente, de uma
forma a confirmar a participação do príncipe na história. Ao saber dos boatos,
Rudolf não se comportou adequadamente: exigiu que alguns oficiais fossem na
casa do infeliz e o açoitassem. O que foi feito. Para não criticar a família imperial.
Rudolf e Stephanie
Desde o
verão de 1888, Rudolf começa a pensar em suicídio, e justamente em suicídio
duplo. Com essa idéia na cabeça, deveria ir para o Japão, porque dificilmente
encontraria alguém que tope na Áustria. Ele deu a sugestão para alguns amigos,
mas eles não se interessaram. Depois, foi a vez de Mizzi, mas ela não só não
quis, como correu até Krauss, chefe da polícia, esperando que aquele tomasse
alguma providência. Mas Krauss somente mandou ela ficar de bico fechado.
Finalmente, em novembro de 1888, Rudolf encontrou o que procurava. Mais
exatamente, Mary Vetsera.
As opiniões
sobre Mary Vetsera divergem. Alguns a consideram uma jovem romântica que se
sacrificou por amor, outros uma biscatinha esperta. De qualquer forma, temos
somente fatos. Mary era filha de Albin Vetsera e Helene Baltazzi. A família era
rica, mas não nobre, por isso a baronesa Helene fez de tudo para se infiltrar
nos círculos da lata nobreza. É curioso que ela havia dado em cima de Rudolf
quando ele tinha 21, e ela 32. Mary Vetsera, uma das mais belas mulheres de Viena,
com seus cabelos negros, grandes olhos castanhos com matizes de azul e lábios
sensuais, se interessava principalmente por cavalos e vestidos. Aos 15 anos,
ela visitou o pai em Cairo onde, segundo memórias de Marie Larisch, teve um
caso com um senhor inglês.
Mary com a irmã
Ao voltar
para Viena, ela se apaixonou por Rudolf. Enfim, umas penduram pôsteres de
músicos gatos na parede, outras se apaixonam por príncipes, coisa de
adolescente. Mary, de 17 anos, sofreria de amor não correspondido, se não
tivesse dinheiro, e se não conhecesse Marie Larisch, que sempre precisava de
dinheiro.
Se bem que
Edward de Wales, amigo de Rudolf e futuro rei da Inglaterra, dizia que ele
mesmo havia apresentado os dois, e Larisch não tinha nada a ver (mas sobrou
para ela do mesmo jeito).
Marie Larisch,
prima de Rudolf, não estava sobrecarregada de princípios morais. Mais tarde,
ela escreveu um livro de memórias onde pisou em todos os calos de estimação dos
Habsburgos e, como resultado, foi proibida de aparecer na corte. Uma das
versões da história diz que Marie Larisch era amante de Rudolf e apresentou-lhe
Mary Vetsera para agradá-lo. Isso soa excessivamente pervertido, é mais
provável que ela tenha apresentado os dois por dinheiro – jogava e precisava
pagar as dívidas.
Marie Larisch
Mary se
encontrou várias vezes com Rudolf em Hofburg, e algumas vezes eles saíram
juntos de carruagem. Diz-se que, em um dos encontros, ele a presenteou com um
anel com letras “ILVBIDT” – “In Liebe Vereint bis in dem Tod” - “unidos no amor
até a morte”. Mary escreveu em seu diário: “Nos dois perdemos a cabeça. Agora,
nos pertencemos um ao outro de corpo e alma”.
Três meses
depois...
25 de
janeiro de 1889
Mary
Vetsera e sua dama de companhia vão a uma adivinha, que prevê para Mary algo
tão desagradável que a dama de companhia pira.
26 de
janeiro
A dama de
companhia conta para Helene que uma semana antes Mary comprou uma cigarreira de
ouro, mas pediu para não contar nada a mãe. Então a dama tinha pensado que era
um presente para Helene, mas depois ficou em dúvida. Quando Helene tenta falar
sobre isso com Mary, esta fica histérica. Apesar das lágrimas da filha, a mãe a
obriga a abrir a gaveta, onde acha uma cigarreira de prata com as iniciais de
Rudolf. Mary explica que ela a ganhou de Larisch, que por sua vez a pediu ao
príncipe, sabendo o quanto Mary o adora. Marie Larisch confirma as palavras da
jovem. Além disso, ela promete que pedirá a Rudolf devolver a cigarreira de
ouro que Mary diz ter enviado para ele (na verdade, entregou pessoalmente).
Mary Vetsera
Franz
Joseph chama Rudolf para uma conversinha, diz que é preciso acabar essa
história com Vetsera de uma vez. Corriam boatos de que o príncipe até mesmo
escreveu para o Papa perguntando sobre as possibilidades de divórcio e queria
se casar com a amante. O imperador, irritado, grita que o príncipe não é digno de
se tornar seu sucessor. Rudolf promete acabar com tudo, mas quer ver Mary mais
uma vez, e o imperador consente. Além disso, o príncipe reclama da orientação
pro-germânica do pai. Com as palavras: “O que quer que aconteça, a
responsabilidade será sua”, Rudolf sai do escritório do pai. Elisabeth também
está incomodada pela relação, mas não quer interagir com o filho.
27 de
janeiro
Uma
recepção organizada pelo embaixador alemão Reuss. Franz Joseph demonstra grande
simpatia pela Alemanha, e ocorre um conflito entre Mary e Stephanie.
Rudolf
passa essa noite com Mizzi, estragando um pouco a beleza da história.
28 de
janeiro
Larisch e
Vetsera vão fazer compras. Quando Larisch entra numa joalheria, Mary fica
sozinha na carruagem. Ela foge, pega uma carruagem para levá-la até o hotel,
onde se encontra com o príncipe, e os dois vão a propriedade de Mayerling. Ao
voltar da loja, Larisch encontra somente um bilhete, no qual Mary afirma que
pretende se matar. Quando ela mostra o bilhete para Helene, dizendo que isso é besteira,
a menina vai fazer arte e voltar, aquela se desfaz em lágrimas. Ela liga o
ocorrido a Rudolf imediatamente, mas Larisch a tranqüiliza, dizendo que vai
resolver tudo. Depois Marie Larisch vai até o chefe da polícia e diz-lhe que
Mary estava fazendo graça, mas na verdade ela fugiu com Rudolf, pois era amante
dele há tempo. O que Krauss menos queria era se meter num escândalo imperial,
por isso ele pediu somente que Helene comunicasse o desaparecimento da filha a
polícia. A essa altura, Larisch começa a perceber que a coisa está bem mais
feia do que ela pensava, e ela mesma está atolada na história até o pescoço, e
vasa de Viena.
29 de
janeiro
Antes de
começar as buscas, Krauss se dirige ao primeiro ministro Taaffe para solicitar
uma permissão oficial. Talvez o ministro não suportava Rudolf, ou talvez a
reputação de Helene Vetsera deixava a desejar, mas ele não dá a permissão.
Rudolf e
Mary passam o tempo em Mayerling (Mary passa o tempo todo no quarto, de modo
que o conde Joseph Hoyos e o príncipe Filipp Coburg, que também vieram para
caçar em Mayerling, nem mesmo suspeitam da sua presença). Neste dia, Rudolf
deveria estar presente no jantar de comemoração do noivado da sua irmã Valerie,
mas ele envia um telegrama para Stephanie, dizendo que não poderá vir (na
verdade, ferrou incrivelmente com a irmã, afinal, era o dia do noivado dela). O
príncipe está resfriado, mas os amigos notam que está de bom humor.
Uma das últimas fotos de Rudolf
Enquanto
isso, Helene Vetsera corre por Viena inteira, em busca de notícias sobre a
filha. Ela solicita uma entrevista com Taaffe e implora que o primeiro ministro
lhe arranje uma audiência com o imperador. Este nega o pedido dela, pois Helene
não tem provas. Além disso, a polícia não pode baixar assim do nada nas terras
imperiais! É preciso esperar, talvez Mary apareça. Sei lá, volte pra casa por vontade própria.
30 de
janeiro
Na noite
anterior, Rudolf foi dormir mais cedo, e pediu ao seu mordomo Loscheck não
deixar ninguém entrar no quarto, nem o próprio imperador. O mordomo decidiu que
o príncipe quer divertir se tranqüilamente com Mary Vetsera, e ficou muito
surpreso quando Rudolf saiu as 6:30 da manhã, e pediu para que Loscheck o
acorde em uma hora. Depois ele voltou para o quarto, assobiando, e fechou a
porta, algo que normalmente não fazia.
Loscheck
As 7:30, o mordomo
bate na porta, mas não há resposta. O conde Hoyos decidiu que Rudolf deve ser
deixado em paz. Mas às 8 horas, a situação começou a ficar suspeita, não havia
sinais de vida no quarto. A essa altura, Filipp Coburg voltou a Mayerling, e os
homens decidiram arrombar a porta. A fechadura não cedia, por isso eles tiveram
que quebrar a própria madeira. Quando Loscheck olhou para dentro do quarto,
gritou de horror: Rudolf e Mary estavam na cama, o príncipe estava coberto de
sangue. Curiosamente, a primeira explicação foi o envenenamento por estricnina
(uma característica típica deste é o sangramento abundante). O conde Hoyos voou
a Viena, para notificar a família imperial sobre a tragédia.
Conde Hoyos
Depois de
um breve conselho, foi decidido informar primeiro a imperatriz, o que é um
tanto estranho, já que naquela época tentava-se poupar as mulheres de notícias
terríveis. Seria mais lógico informar primeiro a Franz Joseph, para que ele
pudesse preparar a esposa para a notícia. De qualquer forma, naquele momento, o
cabelo de Elisabeth estava sendo penteado, enquanto ela estudava grego. Quando
uma de suas damas bateu à porta, em lágrimas, dizendo que havia notícias
importantes para a imperatriz, aquela disse que poderiam esperar. Mas os
portadores da nova não esperaram, e Elisabeth em breve compreendeu que algo
realmente grave havia acontecido. Ao ouvir sobre a morte do filho,
presumivelmente por envenenamento, ela desatou a chorar, mas depois se
controlou, acalmou o marido e o mandou ver a amante, que poderia consolar Franz
Joseph bem melhor que ela própria. Enquanto isso, Elisabeth chama Valerie, que,
ao saber sobre a morte do irmão, perguntou na hora se ele havia se matado.
Mas os
problemas de Elisabeth não acabaram aí. Helene Vetsera, a pessoa que a
imperatriz menos queria ver no momento, estava esperando-a. Apesar de tudo,
Elisabeth, perfeitamente calma, recebeu a mulher desesperada e disse-lhe que a
filha dela estava morta. Depois adicionou que o filho dela mesma também estava.
Vetsera caiu de joelhos e, em prantos, perguntou: “A minha filha fez mesmo
isso?” (é bastante estranho e esclarecedor que o primeiro pensamento dela era
de que a filha havia matado Rudolf). A imperatriz acariciou a mão de Helene e
disse que, de agora em diante, ela não pode esquecer que Rudolf morreu de
ataque cardíaco.
Helene Vetsera
Foi
justamente esta a versão que a família imperial comunicou aos jornais, mas não
havia como esconder tudo, e detalhes sobre o ocorrido em Mayerling vazaram em
pouco tempo. A perícia médica, realizada no mesmo dia, mostrou que coração e
veneno não tinham nada a ver com o caso. Ao entrar no quarto, os médicos
encontraram Rudolf sentado na cama: ele deu um tiro na cabeça. No chão, havia
um revolver, e na mesinha de cabeceira, um pequeno espelho (provavelmente, o
príncipe o usou para mirar melhor). Mary Vetsera estava deitada na cama, havia
levado um tiro na têmpora. A jovem estava semidespida, e Rudolf havia colocado
uma rosa na sua mão. De acordo com o estado do corpo, concluiu-se que ela havia
morrido 6-8 horas antes da morte do príncipe. Isto é, ele passou a noite toda
no quarto com o cadáver. Mas porque então estava tão calmo de manhã, e até
mesmo assobiava? Possivelmente, depois de matar Mary Vetsera, ele compreendeu
que não havia volta, e este pensamento deu-lhe mais confiança.
A versão
mais difundida dos eventos em Mayerling é simples: Rudolf matou Mary Vetsera, e
de manhã se matou. Não era um assassinato comum, e não foi causado por uma
briga. Isso pode soar assustador, mas Mary sabia o que iria acontecer. Um
testemunho disso são os bilhetes que ela deixou. Escreveu para a mãe:
Querida mamãe!Perdoe-me pelo que fiz. Eu não posso resistir ao amor. Gostaria de que nos juntos fossemos enterrados no cemitério de Alland. Serei mais feliz na morte do que na vida.Sua Mary.P.S.: Bratfisch assobiava muito bem.
A menção do
cocheiro, que realmente assobiava artisticamente, mostra a imaturidade dela. O
mesmo pode ser dito sobre o seu pedido de ser enterrada junto com o príncipe, a
família imperial se mataria antes de permitir isso. Não dá para entender
direito o que Mary queria, se “eu vou morrer e ver vocês todos chorando”, ou
realmente considerava que não há razão para ela viver, pois ela e Rudolf nunca
poderão estar juntos. E o bilhete a seguir foi escrito para Marie Larisch:
Querida Marie! Perdoe-me por todo o sofrimento que lhe causei. Agradeço por tudo que fez por mim. Se a sua vida ficar difícil, e eu temo que isso pode acontecer depois do que nos fizemos, siga-nos. É o melhor que você pode fazer. Sua Mary
Marie Larisch
Obviamente,
Larisch não quis seguir o bom conselho.
Alem da
versão oficial, existiram – e continuam existindo – várias teorias
alternativas. Algumas delas:
1. Rudolf
morreu de coração (ataque cardíaco ou aneurisma). Esta foi a primeira versão
oficial, contudo foi desmentida mais tarde. Além disso, Rudolf tinha somente 40
anos, e Mary Vetsera morreu por alguma razão também.
2. Mary
Vetsera envenenou Rudolf e depois se matou. Primeira versão que correu a corte,
é desmentida pelo fato de que Rudolf foi visto vivo enquanto Mary já estaria
morta.
3. Rudolf
se matou num acesso de depressão, pois achava que estava enlouquecendo, tal
como Ludwig II.
4. Rudolf
mata Mary Vetsera e se mata num acesso de insanidade. Contudo, doença mental
pode ser somente uma desculpa para permitir um enterro cristão.
5. Rudolf
se mata por não ter mais o que fazer na vida, e Mary se mata por amor a ele.
Contudo o príncipe estava cheio de planos, e podia conseguir praticamente tudo
o que queria (no que diz respeito a dinheiro e mulheres, pelo menos).
Rudolf
6. Várias versões
consideram que Rudolf foi morto por motivos políticos, e Mary Vetsera
simplesmente estava no lugar errado na hora errada. Há algum fundamento nisso,
pois o príncipe era conhecidamente liberal e reprovava várias das políticas do
pai. Enfim, havia aqui vários interessados, tanto em conspirar com Rudolf,
quanto em fazer com que ele não conspire. Segundo o testemunho de Marie Larisch,
o príncipe temia ser preso e deixou com ela uma valise com documentos, mas é
fácil imaginar o que uma mulher expulsa da corte pode inventar.
7. Rudolf
estava envolvido em uma conspiração húngara, cujo objetivo era destronar o
imperador. A conspiração foi descoberta, e o príncipe se matou para salvar-se
da desonra. Mas mesmo sendo verdade que uma lei que aumentava consideravelmente
a independência da Hungria estava em discussão, esta discussão não havia ainda
sido concluída, e o príncipe era leal ao pai e tinha boas noções sobre os seus
deveres.
8. Ele não
se matou, mas foi morto, possivelmente por ordem do pai. Taaffe sabia disso (e
os seus descendentes conservaram documentos provando isso).
9. Rudolf
se matou por motivos políticos. E Mary Vetsera não tinha nada a ver com nada.
Na verdade, ela não morreu, em vez dela, trouxeram a Mayerling o cadáver de uma
outra jovem, para que tudo parecesse uma tragédia morosa. E como Vetsera sabia
demais sobre as relações políticas de Rudolf, a levaram num navio militar para
os EUA, onde ela se casou com um fazendeiro e teve um monte de filhos.
10. Uma
alternativa a versão acima é que Mary foi morta para disfarçar o assassinato de
Rudolf. Não faz muito sentido.
11. Rudolf
e Mary foram mortos numa briga durante o jantar. Contudo, nenhum dos presentes,
e também, o mais importante, nenhum dos criados deu testemunho de qualquer
conflito. Ninguém sofreu quaisquer ferimentos que pudessem confirmar a hipótese
da briga. Coburg e Hoyos não perderam as graças da família imperial depois.
Mary Vetsera num baile a fantasia
12. Era um
“duelo americano” – chamavam assim o suicídio para preservar a reputação. O
príncipe havia seduzido uma mulher casada e depois ele e o marido dela jogaram
uma moeda, e Rudolf teve o azar de ter que morrer. O fato de que vários maridos
enganados tinham ciúme de Rudolf serve de fundamento. Existe uma versão desta
hipótese que afirma que o duelo ocorreu com um parente de Aglae Auersperg (veja
a versão 15).
13. Alguém
com ciúmes de Rudolf o castrou, o que por sua vez foi motivo para suicídio. Mas
onde fica Mary então?
14. Duplo
assassinato acidental. Rudolf e Mary foram pegos em flagrante pelo tio dela,
começou uma briga, durante a qual o tio acidentalmente deu um tiro em Mary.
Depois ele matou o príncipe com uma garrafada na cabeça. Plausível, pois havia
um motivo real e a situação justificava a encenação de um suicídio. Contudo,
não há evidências de que quaisquer estranhos tenham entrado em Mayerling
naquela noite, e os Baltazzi não foram condenados pela sociedade.
15. O
mesmo, só que obra dos parentes de Aglae Auersperg (amiga de Valerie que,
segundo as fofocas da corte, Rudolf havia engravidado). Aglae havia permanecido
longe de Viena por várias semanas. Novamente, contra esta versão temos o
argumento de que não havia estranhos em Mayerling naquela noite, e a família
Auersperg não foi condenada pela sociedade. Além disso, não há quaisquer
informações que comprovem a gravidez de Aglae.
16. Duplo
suicídio, um amor impossível. Os laudos médicos parecem comprovar esta
hipótese. Além disso, Rudolf teve uma conversa com o pai acerca do seu
relacionamento com Mary. Contudo, o príncipe tinha muitas amantes, e passou a
última noite em Viena com Mizzi Kaspar. Várias pessoas do círculo de Rudolf
apontam, na verdade, que ele queria romper com Mary.
17. Mary
estava grávida e ela e Rudolf decidiram que é melhor morrer do que ter filhos
ilegítimos. A gravidez seria uma razão válida para a discussão entre Rudolf e
Franz Joseph alguns dias antes, contudo filhos ilegítimos não eram nada demais
naquela época (alias, o próprio Franz Joseph tinha alguns).
18. Mary
Vetsera morre de complicações durante um aborto, e Rudolf se mata. As ações da
dupla levam a crer que estavam tramando algo especial, e Marie Larisch visitou
uma parteira alguns dias antes. Contudo, como já foi dito antes, filhos
ilegítimos não eram algo tão incomum, e convenhamos que não era o melhor lugar
possível para abortar. Além disso, não há vestígios da presença de um médico ou
uma parteira em Mayerling naquela noite.
19. Rudolf
deu um fora em Mary e esta, enlouquecida de raiva, acertou-o com um objeto
pesado na cabeça. Loscheck a matou com um tiro na tentativa de defender o
príncipe.
20. O
príncipe foi morto por um camponês enlouquecido, que primeiro o castrou, depois
atirou nele. Contudo, a morte do príncipe pelas mãos de um louco seria bem mais
socialmente aceitável que a hipótese finalmente aceita de assassinato seguido
de suicídio, de modo que não está claro porque o imperador não oficializou esta
versão se ela era verdadeira.
21. Mary
era filha ilegítima de Franz Joseph. Nem ela, nem Rudolf suspeitavam disso. Mas
quando o imperador soube do relacionamento, ele contou o segredo para o filho.
Compreendendo que eles haviam cometido um incesto, Rudolf e Mary se mataram.
22. Mary
era filha natural de Rudolf (que havia tido um relacionamento com Helene na
juventude). Quando os dois souberam que haviam cometido um incesto, se mataram.
Contradizem
as teorias de suicídio de modo geral os testemunhos de algumas pessoas próximas
a Rudolf, por exemplo, o já mencionado Edward de Wales: “Eu o conhecia bem, e
penso que ele seria a última pessoa a atentar contra a própria vida”.
Uma versão
mais bonita que a outra. Mas elas surgiram mais tarde, e no dia 30 de janeiro
os médicos comunicaram os resultados da sua avaliação ao imperador. Ao ouvir o
relato, Franz Joseph enfureceu-se, pois o herdeiro de uma dinastia católica não
poderia ser um suicida. Menos ainda um assassino! E Rudolf, que havia deixado
bilhetes para a mãe e para a mulher, não escreveu nem mesmo uma palavra para o
pai.
Para a mãe,
escreveu, entre outras coisas: “Sei bem que não sou digno de ser filho dele”.
Mary usando o mesmo vestido com o qual foi enterrada
Depois,
começou a confusão com o enterro. Os suicidas não poderiam ser enterrados com
todos os rituais religiosos devidos, mas os Habsburgos são Habsburgos para
poderem tudo. Normalmente o imperador tentava não abusar da sua posição, mas
agora fez de tudo para abafar o caso. O suicídio de Rudolf foi atribuído a um
acesso de insanidade. A questão de Mary Vetsera era mais complicada, mas apesar
de os médicos terem indicado suicídio como causa da morte, as autoridades
religiosas consentiram em enterrá-la normalmente. O seu corpo foi removido de
Mayerling de forma bastante assustadora. Seu tio, Alexander Baltazzi, chegou a
Mayerling com mais um parente. O corpo de Mary já havia sido lavado e vestido.
Os parentes sentaram a jovem morta na carruagem, e a apoiaram dos dois lados –
se alguém fosse espiar, pensaria que ela adormeceu sentada. Andaram assim as
quatro milhas até o cemitério.
Alexander Baltazzi
No dia cinco
de fevereiro, o corpo de Rudolf foi exposto na capela de Hofburg. Dizem que
Elisabeth chegou à noite, chamou o porteiro e disse: “Sou a imperatriz. Quero
ver meu filho”. Apesar dos argumentos do padre, ela entrou sozinha. Na capela,
ela gritou “Rudolf!”, e depois ficou em silêncio. Depois saiu e desapareceu na
escuridão sem dizer uma palavra. Desde então ela vestia-se somente de negro, e
quase sempre cobria o rosto com o leque – desenvolveu um tique nervoso.
A casa de
caça foi transformada por Franz Joseph num monastério das carmelitas,
provavelmente na esperança de que as irmãs rezem pela alma do seu filho. E, hoje em dia, Mayerling é um museu.
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at segunda-feira, novembro 28, 2011
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rudolf,
sisi,
Wittelsbach
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