Espartilhos  

Posted by Moriel in , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Tight-lacing (laço apertado) era uma obcessão principalmente inglesa. O tamanho perfeito para a cintura era em torno de 18 a 20 polegadas (46-51 cm), algo totalmente bizarro para uma mulher moderna, e para um ser humano de modo geral. Algumas mulheres apertavam-se mais ainda. A partir da segunda metade do século 18, os espartilhos passaram a ser produzidos em massa e ficaram baratos. Era uma indumentária muito propagandeada, muitas vezes especificamente para tight-lacing.



As histórias são medonhas. Uma parisiense de 23 anos, num baile, no ano de 1859, foi a inveja de todos com sua cinturinha de 13 polegadas (33 cm). Dois dias mais tarde, foi encontrada morta. A autópsia mostrou que seu fígado foi perfurado por três costelas. Uma jovem sofria de fortes dores na região do estômago. Depois da sua morte, a autópsia: seu estômago estava praticamente dividido em dois, “deixando somente um canal, tão estreito quanto uma pena”.

Afinal, qual era o fundamento dessa moda? Porque as mulheres usavam espartilho? Antes de tudo, supunha-se que o espartilho melhora a postura, e era justamente a postura que distinguia um aristocrata de um camponês encurvado pelo trabalho pesado. Além disso, a postura estava relacionada a ideias de autocontrole e disciplina, novamente traços distintivos da aristocracia. Por isso, entre os séculos 16 e 18, as crianças começavam a usar espartilho bem cedo. Assim, no século 17, na França, as meninas começavam a usar espartilho aos dois anos, para evitar que as costas se encurvassem, e para ter, mais tarde, cintura e busto bonitos. Os meninos também usavam espartilhos, mas até uns seis anos de idade.

Além de ser bom para saúde, os espartilhos tinham fins estéticos: cintura fina e seios fartos eram um ideal de beleza feminina, e a beleza, como bem se sabe, exige alguns sacrifícios. Já nos séculos 16 e 17 os espartilhos se tornaram alvos de críticas por parte dos médicos e dos religiosos. Ao dar bronca na mulherada fútil, alguns médicos descreviam com muito gosto os horrores provocados pelo uso do espartilho, de asma até morte. Em particular, há o caso de uma noiva que morreu no altar, sem conseguir respirar no espartilho apertado demais. Mas os espartilhos tinham também seus defensores. Por exemplo, o escritor e filósofo francês Michel de Montaigne maravilhava-se com as mulheres dispostas a sofrer pela beleza, e até mesmo as comparava com gladiadores romanos e mártires cristãos.

Os pintores do século 18 frequentemente retratam a toilette feminina, em particular no que diz respeito a colocação do espartilho. Muitas vezes, a mulher se segura na coluna da cama, enquanto a criada, apoiando-se com o joelho numa parte do corpo macia da senhora, aperta os laços do espartilho. Isso porque, naquela época, o laço passava em zigue-zague. Quando era apertado, a mulher era puxada de um lado para o outro, e precisava se segurar em alguma coisa para não cair. No século 19, o desenho do espartilho foi modificado, com furos dispostos na mesma altura e dois laços para puxar, mas a tradição se conservou.

No século 18, as inglesas usavam espartilho com mais frequência que as francesas. Isso era considerado de bom tom, já que uma senhora decente não poderia sair por aí desarrumada. Mais ainda, na Inglaterra, espartilhos eram usados mesmo por trabalhadoras braçais, criadas e camponesas.

A situação mudou significativamente no final do século 18, com a Revolução Francesa. Os revolucionários não gostavam do espartilho, uma roupa “aristocrática”. As mulheres atenderam aos seus chamados. Não completamente, claro, mas deixaram de se apertar tanto assim. A era do Império (Regência na Inglaterra) parecia ter acabado de vez com o espartilho. Para que se precisa de um, se o vestido nem fica justo na cintura? Na verdade, continuava se usando o espartilho, afinal, além de afinar a cintura, o espartilho dá uma levantada nos seios. Mas era uma coisa bem mais leve e macia, com menos barbatanas: em suma, um antepassado do sutiã.

Mas o espartilho é imortal. Com o fim das guerras napoleônicas, ele voltou em toda a glórica, cada vez mais rígido, mais justo. E mais sexy, claro.

No século 19 os espartilhos aumentaram, e a forma como eram amarrados mudou parcialmente. Mas os laços continuavam nas costas, e a mulher continuava precisando de uma criada gentil para auxiliá-la na delicada empreitada de se enfiar em um espartilho e sair dele. Esse problema foi solucionado em 1829, quando surgiram primeiros espartilhos com ganchos na frente. Como o espartilho era usado por baixo da roupa, normalmente eram feitos de algodão e linho, e eram brancos ou bege. Nem sempre, claro.

Com o passar dos anos, os espartilhos ficavam cada vez mais coloridos, surgiam rendas, lacinhos e bordados. Não é a toa, afinal o papel erótico do espartilho foi crescendo. Espartilhos de cores fortes eram populares entre as cortesãs e as prostitutas. Tinha também o gosto das próprias mulheres, afinal de contas, é bom vestir lingerie bonita, mesmo se ninguém estiver vendo.

Apesar de ter função única, dar um formato bonito à figura, existiam vários tipos de espartilhos, por exemplo para mulheres grávidas, para amazonas, e também para serem usados à noite.

Algumas fotografias, apreciem os resultados obtidos.

This entry was posted at sexta-feira, março 18, 2011 and is filed under , , , , , , , , , , , , , , , , , , , . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

2 comments

Anônimo  

Eu gostaria de dizer,que eu adoro o seu blog,porque eu sou uma aficcionada e incompreendida amante do seculo XIX.Você poderia fazer um post sobre padrão de beleza da era vitoriana?Eu queria saber quais os padrões além da cintura fina,já que eu sempre achei que elas fossem gordinhas,mas pelas fotos,algumas me parecem bem magras.Obrigado!

24 de setembro de 2011 às 09:17

Sou extremamente apaixonada pelo século XIX e principalmente por corset. Achei este blog por acaso e me apaixonei.
Aqui é um encantamento para todos os admiradores deste século.
Parece que aqui eu me transporto para o século XIX. É Fascinante!

Parabéns

1 de maio de 2012 às 16:45

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